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Hospital já se prepara para receber feridos
PATRICK COCKBURN
DO "THE INDEPENDENT"
NO VALE DE PANSHIR (AFEGANISTÃO)
O médico Gino Strada, cirurgião italiano que construiu o único hospital moderno do Afeganistão, e a administradora do local, a
enfermeira britânica Kate Rowlands, estão se preparando para
a chegada de um grande número
de pessoas feridas, diante da iminência da retaliação americana.
"Temo a retórica de George
Bush de trazer de volta os inimigos da América vivos ou mortos",
disse Strada. "Políticos do mundo
todo, que não poderiam localizar
o Afeganistão no mapa, discutem
se o país deve ser o alvo dos bombardeios. A única certeza é que
pessoas aqui vão morrer."
O cirurgião acabou de retornar
de uma viagem de cinco dias através das montanhas do Paquistão,
em direção ao seu Centro Cirúrgico de Emergência para Vítimas de
Guerra, aberto há três anos, próximo à cidade de Anava, no isolado vale de Panshir.
Ele e Kate voltaram imediatamente ao trabalho após terem retornado a Panshir. Queriam verificar quais pacientes já estavam
recuperados o bastante para receber alta. O objetivo é ter os leitos
do centro cirúrgico livres para pacientes seriamente feridos, quando as batalhas começarem.
O hospital, um conjunto de bonitos prédios brancos com portas
vermelhas, foi uma extraordinária realização. Equipamentos militares russos abandonados foram
usados na obra. O equipamento
médico teve de atravessar as
montanhas em embalagens nas
costas de animais.
O hospital é voltado, a princípio, para vítimas de guerra. Mas,
como não existe outro hospital
tão bem equipado na região, os
cinco cirurgiões e os 24 enfermeiros que trabalham no local nunca
dão as costas a alguém.
A maioria dos leitos está ocupada por soldados e civis feridos nas
últimas batalhas.
Em um quarto, um fisioterapeuta fazia exercícios com Hoja
Sharif, 40, desempregado, natural
de Charicar, ao norte de Cabul,
que teve a perna esquerda destruída por um míssil do Taleban,
enquanto caminhava.
Nem todos os que foram feridos
em consequência da guerra são
soldados. Kate aponta um jovem
de 15 anos chamado Sardarkhan,
dizendo: "É a segunda vez que está aqui. Nas duas vezes, veio porque a munição com que estava
brincando explodiu."
A maioria dos pacientes atendidos por Strada vem de áreas controladas pela Aliança do Norte,
que faz oposição ao Taleban.
Ele tem tentado abrir um hospital em Cabul. Chegou a conseguir.
Seu hospital na cidade tinha 120
leitos. Planejava expandir para
300. Mas, logo após a inauguração, foi invadido pela polícia religiosa, responsável por "combater
o vício e promover a virtude".
"Eles agrediram a nossa equipe
e jogaram três pessoas na cadeia
por dez dias", disse Strada.
O cirurgião decidiu fechar o
hospital e afirma que não irá reabri-lo até que as autoridades do
Taleban garantam sua segurança.
Strada é assustadoramente
tranquilo com relação aos problemas que enfrenta por conduzir
um hospital no Afeganistão. Sua
raiva se dirige ao que chama de hipocrisia daqueles que acredita estarem prestes a impor um terrível
sofrimento aos afegãos. Ele culpa
os EUA e o Paquistão por terem
mandado os primeiros fanáticos
religiosos para o Afeganistão, na
Guerra Fria, começando o processo de formação do Taleban.
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