São Paulo, terça-feira, 02 de outubro de 2001

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TENSÃO

Grupo islâmico paquistanês assume ato; Índia adverte Paquistão que sua paciência tem "limite"

Carro-bomba explode e mata 29 na Caxemira

Reuters
Policial carrega colega ferida no atentado cometido em Srinagar


DA REDAÇÃO

Pelo menos 29 pessoas morreram e cerca de 40 ficaram feridas em um atentado suicida no Parlamento de Srinagar, capital da Província da Caxemira, na Índia. O grupo extremista islâmico Jaish-e-Mohammad (Exército de Muhammad), do Paquistão, reivindicou o ato.
Um homem, segundo declaração do próprio grupo, estacionou um carro carregado de explosivos na porta do edifício onde funciona o Parlamento e o detonou. Ao mesmo tempo, outros militantes do grupo entraram no prédio atirando granadas. A ação ocorreu ao redor das 14h locais (4h30, no horário de Brasília) e as explosões se sucederam por mais de cinco horas. Além das mortes, 150 prédios ao redor do Parlamento foram atingidos.
De acordo com as primeiras informações, não havia nenhum político entre os mortos. Todos teriam sido retirados do prédio por um portão nos fundos.
A região da Caxemira é divida entre três países: a Índia, o Paquistão e a China. Os indianos controlam a maior parte, cerca de 45%. Os paquistaneses possuem ao redor de 30% e o restante se localiza em território chinês. O Paquistão, de maioria islâmica, reivindica a porção indiana da Caxemira, onde a maior parte da população também é muçulmana. A Índia é majoritariamente hindu.
A disputa pelo controle da região já causou três guerras entre os dois países desde 1947 e levou indianos e paquistaneses a uma corrida armamentista que culminou na realização de testes nucleares em ambos os lados.
A partir de 1989, foi iniciada uma série de atentados contra a Índia, realizados por extremistas islâmicos. Cerca de 35 mil pessoas já morreram na campanha separatista na região.

Paciência
O governo indiano descreveu o ataque como "um bárbaro ato de terrorismo" e acusou o Paquistão de ajudar os terroristas. O Ministério das Relações Exteriores afirmou que a Índia não pode aceitar manifestações de ódio e de terror do outro lado da fronteira (Paquistão), no momento em que o mundo forma uma coalizão contra o terrorismo.
"Há um limite para a paciência da Índia", acrescentou a declaração emitida pela Chancelaria indiana. O governo indiano acusa o Paquistão de dar suporte e treinamento a terroristas na região paquistanesa da Caxemira, entre os quais alguns integrantes do Taleban, milícia extremista islâmica que controla o Afeganistão.
Os atentados de ontem foram os primeiros desde os ataques terroristas contra os Estados Unidos.
Pressionado pelos americanos para combater o terrorismo, o Paquistão teve de se apressar na condenação dos atentados.

Condenação
O governo do Paquistão disse que dá apenas "apoio moral e diplomático" aos muçulmanos da Caxemira indiana e, em declaração do Ministério das Relações Exteriores, afirmou ser contra qualquer tipo de manifestação terrorista.
"O ato terrorista de Srinagar foi especialmente repreensível, pois apenas ajudou a danificar a imagem do legítimo direito da população da Caxemira decidir o seu futuro pacificamente", acrescentava o comunicado.
O Jaish-e-Mohammad, grupo responsável pelos atentados de ontem, foi formado pelo paquistanês Moulana Massod Azhar. Ele foi solto pelas autoridades indianas em uma troca por passageiros da Indian Airlines durante sequestro de avião no fim de 1999.
O grupo assumiu o atentado de ontem por meio de declaração telefônica feita a jornais de Srinagar.


Com agências internacionais



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