São Paulo, quarta-feira, 02 de outubro de 2002

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DIPLOMACIA

Detalhes para volta dos inspetores são acertados, mas EUA exigem nova resolução da ONU antes do reinício dos trabalhos

ONU e Iraque fecham acordo para inspeção

Jockel Finck/Associated Press
O chefe dos inspetores da ONU, Hans Blix (à esq.), e Amir al Sadi, chefe da delegação iraquiana, explicam o acordo obtido em Viena


DA REDAÇÃO

A ONU e o Iraque chegaram ontem a um acordo sobre os detalhes práticos para a retomada das inspeções das armas de destruição em massa iraquianas. Para os EUA, porém, os trabalhos só podem começar após a aprovação de uma nova resolução do Conselho de Segurança (CS) da ONU, que amplie os poderes dos inspetores e autorize o uso da força caso Bagdá não coopere.
A chegada dos primeiros inspetores ao Iraque está prevista para dentro de duas semanas. Entretanto um alto funcionário do Departamento de Estado dos EUA disse que, se os inspetores tentarem começar suas buscas antes da nova resolução, Washington adotaria medidas para impedi-los.
Ao relatar os resultados da reunião em Viena, o chefe dos inspetores de armas da ONU, Hans Blix, disse que Bagdá aceitou todos os direitos de inspeção contidos em resoluções já existentes.
O secretário de Estado americano, Colin Powell, disse que os inspetores não podem partir antes de novas determinações do CS: "Não acredito que devam voltar a entrar [no Iraque" com as velhas resoluções e o velho esquema".
EUA e Reino Unido articulam projeto de resolução que pode, na prática, retardar as inspeções. O documento em discussão na ONU diz que o Iraque teria 30 dias para apresentar uma "declaração completa" de todos os seus programas de armas. De acordo com o texto proposto, essa declaração iraquiana teria de ser entregue "antes do início das inspeções".
Segundo o acertado ontem, os iraquianos não se comprometeram a abrir incondicionalmente aos inspetores os palácios presidenciais de Saddam Hussein, uma das demandas de Washington. "Sobre a questão do acesso, ficou esclarecido que todos os lugares estão sujeitos a acesso imediato, incondicional e irrestrito. Entretanto o memorando de entendimento de 1998 estabelece procedimentos especiais para o acesso a oito lugares presidenciais", explicou Blix.
Em 1998, Bagdá chegou a um acordo com a ONU segundo o qual as inspeções nesses oito palácios só seriam realizadas seguindo regras excepcionais. O governo do Iraque teria de ser avisado com antecedência sobre a data da visita e receber os nomes dos inspetores visitantes.
Essas restrições foram o epicentro de uma crise: EUA e Reino Unido diziam que Saddam escondia armas químicas, biológicas e nucleares nesses palácios. O Iraque reagiu expulsando os inspetores da ONU -a quem acusou de espionagem- e foi alvo de uma campanha de bombardeios.
O tema -que não foi discutido em Viena- pode voltar a ser usado pelo presidente George W. Bush para sustentar seus argumentos de que o Iraque não está disposto a abrir mão de seus arsenais de destruição em massa.
Diplomatas da ONU, porém, elogiaram a disposição apresentada pelos iraquianos em colaborar com as inspeções. Como sinal de boa vontade, Bagdá disse que permitirá o acesso a localidades estratégicas como os ministérios da Defesa e do Interior e a sede da Guarda Republicana.
Além disso, a delegação do Iraque entregou à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) CDs que conteriam dados sobre equipamentos nucleares de uso civil e militar do país.
Esses dados deveriam ser entregues a cada seis meses, mas o Iraque se negava a fazê-lo desde que rompeu com a ONU, em 1998.
Na conferência anual do Partido Trabalhista, o premiê britânico, Tony Blair, defendeu a adoção de medidas fortes contra Saddam. "Se perdermos nossa vontade coletiva para lidar com esse perigo, não vamos destruir a autoridade dos EUA e do Reino Unido, mas sim a autoridade da ONU", disse. "Algumas vezes, principalmente quando ao lidar com um ditador, a única chance de paz é a disposição de ir à guerra."

Com agências internacionais

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