São Paulo, quarta-feira, 02 de outubro de 2002

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"Não ate minhas mãos", pede Bush ao Congresso

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

O presidente dos EUA, George W. Bush, rechaçou ontem uma proposta alternativa de autorização a um ataque ao Iraque, apresentada pelo senador democrata Joseph Biden e por seu colega republicano Richard Lugar, argumentando que ela o deixaria de "mãos atadas" em relação ao regime de Saddam Hussein.
Os dois senadores conceberam um texto mais brando que o que fora apresentado pela Casa Branca aos congressistas. Este, essencialmente, daria carta branca ao governo para agir "em toda a região". Para Biden e Lugar, a ação deverá restringir-se ao Iraque, e a força militar só poderá ser utilizada para pôr fim às armas de destruição em massa de que dispõe Saddam, não para depô-lo.
Os senadores, que buscavam conquistar a anuência de vários de seus colegas democratas que ainda são contrários a um novo conflito no golfo Pérsico, suprimiram de sua proposta as acusações, feitas pela Casa Branca, de que o regime iraquiano oprime sua população, apóia terroristas e ameaça seus vizinhos.
A Casa Branca não tardou a reagir, afirmando que o texto proposto não permitiria, por exemplo, que os EUA ajudassem a minoria curda caso ela fosse atacada por Saddam. "O texto não fala nada sobre o terrorismo, sobre a repressão à população ou sobre a ameaça aos países vizinhos [do Iraque"", declarou Ari Fleischer, porta-voz da Casa Branca.
Bush foi ainda mais enfático: "Não quero uma resolução que me deixe de mãos atadas. Não vejo por que os congressistas buscariam aprovar uma resolução enfraquecida. Mas conversarei com eles e tenho certeza de que chegaremos a um acordo". Segundo ele, um texto aprovado pelo Congresso em 1998, quando Saddam deixou de permitir a entrada de inspetores de armas no Iraque, era mais forte que o proposto ontem.
De acordo com especialistas ouvidos pela Folha, as dificuldades encontradas pelo governo no Congresso são totalmente normais e fazem parte de qualquer discussão política delicada.
"O primeiro capítulo das negociações foi a apresentação do texto da Casa Branca. O segundo foi a reação do Congresso -com um texto bem mais brando. As negociações se intensificarão, e, em breve, haverá um consenso", explicou Michael Bailey, professor de administração pública na Universidade de Georgetown (EUA).
John Ruggie, ex-secretário-geral-assistente da ONU (1997 a 2001) e autor de, entre outros, "Winning the Peace" (conquistando a paz), arriscou até um prognóstico sobre o resultado das negociações que ocorrem atualmente em Washington.
"Bush queria carta branca para agir no Oriente Médio. O Congresso pensa nas consequências de um novo conflito na região. Logo ambos chegarão a um acordo. Creio em algo assim: o Congresso manterá a "exigência" de que a força militar só seja usada para desarmar o Iraque, porém, se, para tanto, for necessário depor Saddam, ele não se oporá."
Bush reuniu-se com líderes democratas e republicanos. Hoje ele discute novamente o tema com congressistas. O Senado deve abrir oficialmente as deliberações sobre a questão ainda hoje.


Com agências internacionais


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