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DIREITOS HUMANOS
Até crianças levam eletrochoque sem anestesia, diz relatório que pode complicar o país ante a UE
ONG relata barbárie em hospital turco
CRAIG S. SMITH
DO "NEW YORK TIMES", EM PARIS
Os hospitais psiquiátricos turcos praticam abusos horrendos,
entre os quais o uso de choques
elétricos como forma de punição, de acordo com o relatório
de uma ONG de defesa de direitos humanos divulgado na quarta-feira, dias antes da data marcada para a Turquia iniciar suas
negociações de admissão à
União Européia.
O relatório, da Mental Disability Rights International, organização de Washington que defende os direitos dos pacientes psiquiátricos, surgiu depois de diversas visitas de um grupo de investigadores da ONG a hospitais
psiquiátricos e outras instituições que atendem pessoas que
sofrem de distúrbios mentais.
Embora o relatório detalhe diversas modalidades de abuso,
afirma que a mais perturbadora
delas envolve o uso de terapia
eletroconvulsiva sem anestesia,
para o tratamento de ampla gama de moléstias, em adultos e
crianças, o que a Organização
Mundial de Saúde condena.
A terapia, sob a qual uma corrente elétrica é usada para estimular o cérebro do paciente, foi
desenvolvida nos anos 30 e continua a ser usada na psiquiatria
convencional como tratamento
para um número limitado de
doenças. Mas normalmente é
administrada com aplicação de
relaxantes musculares.
Sem esses atenuantes, ela pode
ser dolorosa, aterrorizante e perigosa. Os pacientes correm risco de fratura da mandíbula ou
de vértebras durante as convulsões eletricamente induzidas.
O Ministério da Saúde turco
disse que ainda não havia estudado o relatório e não quis comentar, limitando-se a dizer que
o diretor do centro de terapia
eletroconvulsiva de Bakirkoy
negava ter dado choques elétricos não atenuados no local.
Mas em um dia em que os integrantes da ONG visitaram o hospital, em abril, 24 pessoas haviam recebido esse tipo de tratamento, segundo o relatório.
Havia crianças de apenas nove
anos entre os pacientes submetidos ao método, que também era
empregado para tratar depressão pós-parto. Os investigadores
também constataram que o tratamento era usado como punição. O relatório descreve pacientes arrastados para sessões de
choque em camisas-de-força.
"Se usarmos anestesia, a terapia de choque não será tão efetiva, porque eles não se sentirão
punidos", teria dito o diretor de
terapia eletroconvulsiva, segundo o relatório.
É provável que o novo relatório complique a negociação entre a Turquia e a UE devido aos
severos requisitos do bloco
quanto aos direitos humanos
em países candidatos à admissão. O relatório, que inclui testemunhos de ex-pacientes e vídeos gravados no interior de algumas instituições, também reporta outros maus-tratos.
Boa parte da violência documentada acontece em orfanatos
e centros de reabilitação para
crianças com distúrbios de desenvolvimento ou intelectuais.
Os investigadores viram crianças emaciadas, negligenciadas,
amarradas às camas, muitas delas exibindo problemas de comportamento que eram mais provavelmente resultado dos maus-tratos sofridos do que distúrbios
preexistentes.
O acesso dos investigadores
aos pavilhões mais problemáticos havia sido impedido.
Fotografias e vídeos obtidos
no centro de reabilitação de Saray, a maior das instalações de
reabilitação administradas pelo
governo da Turquia, mostra
crianças esqueléticas, algumas
das quais com garrafas plásticas
de água amarradas nas mão para
impedir que mordessem os dedos. Funcionários da Diretoria
de Serviços Sociais e Proteção à
Criança da Turquia não foram
localizados para comentar.
Tradução de Paulo Migliacci
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