São Paulo, terça-feira, 02 de outubro de 2007

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Che Guevara é mais herói do que assassino, diz biógrafo americano

Jornalista Jon Lee Anderson diz que argentino matou em contexto de guerra

LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A PORTO ALEGRE

Para o homem que assina aquela que é tida como a mais precisa biografia do ícone revolucionário Ernesto "Che" Guevara, "assassino" é uma palavra muito forte para definir o argentino -ainda que ele ostente no currículo uma lista de mortes nas frentes de batalha em Cuba, no Congo e na Bolívia. "Era um contexto de guerra", diz Jon Lee Anderson. "Ele matou gente. Guerra se trata de matar pessoas."
A definição do jornalista norte-americano, autor de "Che Guevara -Uma Biografia" (Objetiva, 1997), veio em resposta a uma pergunta sobre se o homem que ajudou Fidel Castro a liderar a Revolução Cubana (1959) deveria passar para a história como herói ou assassino. No próximo dia 8, serão completados 40 anos da morte de Che pelo Exército boliviano. Para ele, Che é um herói porque as pessoas o querem assim.
"A política dele em si não importa tanto quanto a mitologia criada ao seu redor. Se as pessoas querem que ele se torne um mito, logo ele é um mito", disse o jornalista em palestra em Porto Alegre, na noite de ontem, no seminário Fronteiras do Pensamento, promovido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Repórter da prestigiosa revista "New Yorker", Anderson, 50, passou os últimos anos cobrindo as guerras do Iraque e do Afeganistão, além de produzir registros agudos sobre Cuba, onde viveu por três anos. O saldo dessa experiência é a constatação de que o governo de George W. Bush, com sua desastrosa experiência no Iraque, solapou a credibilidade dos EUA no mundo e que trocar o poder da influência pelo das armas foi uma má idéia, com conseqüências tão duradouras que dificilmente seu sucessor conseguirá mitigar. Para ele, o antiamericanismo não só cresceu como gerou percepções distorcidas, como a idéia de que a mídia do país tornou-se instrumento de propaganda. No vácuo desse sentimento, florescem os governos populistas. "Hugo Chávez está tentando quebrar a hegemonia dos EUA", fala. "Ainda é um rato que ruge, mas já tem feito bastante barulho."


A jornalista LUCIANA COELHO viajou a convite do seminário Fronteiras do Pensamento


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