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Aumentam gestões por acordo em Honduras
Deputados brasileiros obtêm de presidente do Congresso hondurenho promessa de que ultimato a embaixada será revogado
OEA, igreja e empresários também se movimentam para costurar solução para crise; Micheletti diz que deixa cargo se houver consenso
Fabiano Maisonnave/Folha Imagem
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Manuel Zelaya com os deputado Raul Jungmann (PPS-PE, à esq.), Mauricio Rands (PT-PE) e Janete Pietá (PT-SP), na embaixada
FABIANO MAISONNAVE
ANA FLOR
ENVIADOS ESPECIAIS A TEGUCIGALPA
Com o aumento da pressão
sobre o presidente golpista, Roberto Micheletti, para que negocie uma saída para a crise política e flexibilize as medidas linha-dura dos últimos dias,
Honduras vive uma avalanche
de propostas, reuniões e negociações para resolver o impasse
causado pela deposição do presidente Manuel Zelaya e acentuado por seu retorno a Tegucigalpa na semana passada.
Ontem, foi a vez de uma comitiva de deputados brasileiros
se somar à lista de mediadores,
que inclui a Igreja Católica, empresários e, principalmente, a
OEA (Organização dos Estados
Americanos).
Durante visita a Tegucigalpa
ontem, os seis deputados brasileiros obtiveram do presidente
do Congresso hondurenho, José Alfredo Saavedra, a promessa de intermediar com Micheletti a suspensão do ultimato de
dez dias dado no domingo para
que o Brasil defina o "status" de
Zelaya, abrigado há 12 dias na
embaixada do país.
O regime quer que o Brasil dê
asilo a Zelaya ou o entregue à
Justiça para que responda às
acusações que pesam sobre ele
por insistir em promover uma
consulta popular sobre a realização de uma Assembleia
Constituinte mesmo após ela
ter sido considerada ilegal pela
Justiça e pelo Congresso locais.
O prazo para a definição termina na terça-feira, quando a
representação brasileira seria
considerada um "escritório diplomático" por Micheletti.
"Nós saímos agora da Assembleia Nacional, o presidente
[Saavedra] nos garantiu que
eles discutirão na segunda-feira a ampliação do prazo que foi
dado em relação ao caráter da
estadia de Zelaya", disse a deputada petista Janete Pietá
(SP) ao entrar na embaixada
brasileira, onde os seis parlamentares se reuniram a portas
fechadas com Zelaya.
Mais cedo, o próprio Micheletti dissera à agência Reuters
que não pretendia adotar medidas adicionais contra a embaixada quando vencer o prazo -o
que foi interpretado por muitos
como revogação do ultimato.
Mas a grande aposta do presidente deposto é com relação à
vinda da comitiva de alto nível
da OEA, na próxima quarta-feira, quando o secretário-geral da
entidade, José Miguel Insulza,
chegará acompanhado de
chanceleres da região.
Na embaixada, Zelaya e assessores saíram bastante otimistas da reunião de anteontem à noite com o enviado de
Insulza, o também chileno
John Biehl. Existe até a esperança de que o impasse seja resolvido na semana que vem.
Pressões
Parte da pressão para que a
crise seja solucionada vem de
grupos empresariais, que em
sua maioria apoiaram abertamente o golpe. Nos últimos
dias, uma parcela significativa
passou a pressionar Micheletti
por uma solução.
Vários empresários têm demonstrado preocupação com
recentes revogações de visto
pela Embaixada dos EUA em
Tegucigalpa. Com isso, não podem viajar ao principal parceiro comercial de Honduras e
destino de boa parte dos investimentos da elite do país .
Um dos principais líderes
empresariais hondurenhos,
Adolfo Facussé, disse ontem à
Folha que Micheletti afirmou
estar disposto a aceitar uma
proposta sua, que implica a devolução da Presidência a Zelaya, mas com poderes limitados
e sob a condição de que responderá na Justiça as acusações
que pesam contra ele. A proposta prevê que, com a volta do
presidente deposto, um conselho de ministros exerça o poder
de fato. "Falta agora saber o
que pensa o senhor Zelaya",
afirmou Facussé, que é presidente da Associação Nacional
de Industriais (Andi).
Já a Igreja Católica tem defendido o estabelecimento de
uma mesa de diálogo para que
se chegue a um novo acordo
após o fracasso do plano defendido pelo mediador da crise, o
costa-riquenho Óscar Arias.
Micheletti também foi acuado no Congresso, onde o Partido Nacional, a segunda maior
bancada, retirou o apoio ao decreto de estado de sítio.
"Há um pouco menos de
emoção e um pouco mais de racionalidade", disse Biehl ao jornal chileno "El Mercurio".
Em sinal de que se sente
pressionado, Micheletti disse
ontem à agência Efe que, se
houver consenso no país de
que deve deixar o cargo, fará isso. Zelaya também flexibilizou
seu discurso e disse ao jornal
uruguaio "El Observador" que
aceita responder à Justiça se
for reempossado, embora tenha frisado que é inocente e
que jamais buscou a reeleição,
proibida pela Constituição
hondurenha.
Estado de sítio
Ainda ontem, Micheletti se
reuniu com a Corte Suprema
de Justiça de Honduras. O
principal tema discutido foi a
revogação do decreto que estabeleceu a suspensão de garantias constitucionais no país por
45 dias, o que validou a prisão
sem mandado e restringiu o direito de organizar protestos
(que agora só podem ser feitos
mediante aprovação prévia).
Depois do encontro, Micheletti afirmou a jornalistas que
foi até lá "ouvir a opinião de outros setores" sobre o tema, mas
que a decisão final cabe ao "governo de República e ao conselho de ministros".
Mesmo assim, o presidente
interino assinalou que pode tomar a decisão de revogar o ato
ainda hoje, quando se reunirá
com os ministros para analisar
a situação política. Ele sustenta
que pretende restituir os direitos "o mais rápido possível".
Ontem, pelo segundo dia
consecutivo, o toque de recolher, imposto com frequência
desde que Zelaya voltou ao
país, não foi imposto.
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