São Paulo, sexta-feira, 02 de outubro de 2009

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Micheletti promete negociar; país perde 6% do PIB com golpe

Trocas comerciais, porém, seguem sem restrições, já que durante crise todos temem perder negócios

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Após integrantes do empresariado se manifestarem a favor de uma solução negociada para a crise em Honduras, Roberto Micheletti se reuniu ontem com organizações do setor para dizer que o governo golpista "está disposto a dialogar". Ele voltou a prometer que derrogará o estado de sítio.
"Começamos a conversar entre nós. Houve avanço", disse Benjamin Bográn, ministro da Indústria e Comércio de Micheletti, que esteve no encontro ao lado de membros do Cohep (Conselho Hondurenho da Empresa Privada) e da Associação Nacional de Industriais (Andi), entre outros.
Indagado sobre se há espaço para discutir a volta do deposto Manuel Zelaya ao poder, Bográn se esquivou. Afirmou que o foco, agora, está nos pontos comuns, não nas divergências.
Micheletti passou a sofrer pressão de empresários e políticos para que negocie quando cresceu a percepção de que as eleições gerais de novembro não serão reconhecidas internacionalmente caso a situação siga como está. O decreto de estado de sítio irritou os candidatos, em plena campanha eleitoral, e até a população pró-golpe.
O setor produtivo de Honduras teme que a arrastada crise política afete mais a economia do país, já abalado pela recessão mundial. O FMI estimou ontem que o PIB vai cair 2% em 2009, 0,5 ponto a mais do que o previsto em abril. "As duas crises se mesclam, e Zelaya não havia feito nada para mitigar a recessão", reclama Bográn.
Segundo estudo da ONG Grupo da Sociedade Civil (GSC), o golpe causou até agora um prejuízo de US$ 800 milhões para o país devido à paralisação da ajuda internacional e financiamento externo para programas governamentais e obras, ao fechamento temporário de fronteiras e aeroportos e à queda no turismo e investimento -6% da riqueza do país.
O GSC é consultor do governo e da Cooperação Internacional no gerenciamento do fundo de combate à pobreza nacional.
"A crise mundial é uma ameaça clara para aprofundar a pobreza, mas a crise política, social e econômica provocada pelo golpe é mais sistêmica, rápida e invasiva", diz a ONG. Quase 17% do Orçamento vem da cooperação internacional, aplicada principalmente na área social.
O golpe congelou, segundo Bográn, mais de US$ 150 milhões do FMI para reforço das reservas e outros US$ 50 milhões em crédito no BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e no Banco Centro-Americano de Integração Econômica (BCIE).
Nesta semana, empresários da construção civil informaram que, sem os financiamentos, só têm crédito para seguir com obras públicas em infraestrutura por mais um mês.
O intercâmbio comercial, porém, não foi afetado. Apesar das ameaças, a avaliação é que restrições do tipo não vão ocorrer, pois numa crise mundial ninguém quer perder negócios.


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