São Paulo, sábado, 02 de outubro de 2010

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ONU indica outro genocídio na África na década de 90

Relatório diz que refugiados da etnia hutu foram alvo de perseguição em vingança ao massacre de 800 mil em 94

Exército de Ruanda, controlado pela etnia tutsi, teria promovido invasões à República Democrática do Congo

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

A ONU sugeriu ontem que um segundo genocídio ocorreu na África central na década passada, como reação à matança de 800 mil pessoas em Ruanda, em 1994.
As vítimas deste "contragenocídio" seriam membros da etnia hutu que se refugiaram na República Democrática do Congo (RDC) após patrocinarem a morte de seus rivais tutsis.
Eles teriam sido alvo de vingança do governo tutsi que se instalou em Ruanda após o massacre.
"Os ataques sistemáticos descritos nesse relatórios revelam elementos que podem ser caracterizados como crimes de genocídio", diz o documento divulgado.
O mapeamento de violações a direitos humanos foi feito com 1.280 testemunhas. Ao final de um ano de investigações, a ONU indicou, em um texto de 550 páginas, 647 crimes graves que causaram a morte de dezenas de milhares de civis até 2003, na RDC.
As fontes ouvidas pela ONU indicam que depois do êxodo dos hutus, em 1994, as tropas da Frente Patriótica Ruandesa, partido do atual presidente, Paul Kagame, invadiram a RDC, onde 1,2 milhão de hutus haviam procurado abrigo.
Na ação, Ruanda seria acompanhada por soldados congoleses, ugandeses e de outras milícias locais.

DUPLO GENOCÍDIO
As alegações foram contestadas pelo governo de Ruanda, que acusa os agentes da ONU de validarem a "teoria do duplo genocídio", em que os assassinatos contra tutsis igualariam as baixas entre os hutus.
"Ruanda vai continuar a defender-se contra as tentativas de reescrever nossa história de qualquer forma e em qualquer fórum, reservando o direito de rever nossos vários compromissos com a ONU", disse Louise Mushikiwabo, ministro das Relações Exteriores do país.
Já a República Democrática do Congo aplaudiu as conclusões. "Consternador" e "horrorizante" foram as palavras usadas pelo embaixador da RDC na ONU, em Nova York, Ileka Atoki, para descrever o histórico de atrocidades com os hutus.
"As vítimas merecem justiça", disse Atoki, um dos que propõem que a controvérsia seja resolvida em um tribunal internacional.
Entidades humanitárias, como a Cruz Vermelha, evitaram comentar o caso, com temor de que o debate agrave os problemas com direitos humanos que a RDC enfrenta no momento.


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