São Paulo, sexta-feira, 02 de novembro de 2001

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Sharon anuncia equipe para negociação

DA REDAÇÃO

O premiê de Israel, Ariel Sharon, afirmou ontem, durante visita do colega britânico, Tony Blair, que está formando uma equipe de negociação para eventuais conversações de paz com os palestinos. O Exército israelense, contudo, voltou a empregar a controversa estratégia de "autodefesa ativa", matando dois integrantes do grupo islâmico Hamas.
Pressionado pelos EUA e pelo Reino Unido -os dois países buscam, por meio de iniciativas diplomáticas favoráveis aos palestinos, apoio muçulmano aos bombardeios ao Afeganistão-, Sharon disse que a comissão de negociação inclui o chanceler Shimon Peres, veterano interlocutor dos palestinos que prepara um esboço de acordo de paz.
"Vocês podem ver o quanto desejo a paz pelo fato de eu estar criando um time para negociações, que eu e o chanceler Shimon Peres conduziremos, com o objetivo de produzir um acordo -primeiro, um acordo de cessar-fogo; depois, um acordo político."
O jornal israelense "Haaretz" informou que Sharon concordou ainda com uma retirada gradual das cidades autônomas da Cisjordânia parcialmente ocupadas por Israel após a morte do ministro de extrema direita Rehavam Zeevi, em 17 de outubro. A desocupação de cada local deverá ser precedida por reuniões com os palestinos.
O premiê reiterou, porém, que o "cessar total do terrorismo" é a condição para a retomada das negociações. "Estamos dispostos a fazer compromissos dolorosos para alcançar a paz, mas nenhum sobre a segurança de Israel."
O líder palestino Iasser Arafat declarou, em Gaza, que estava pronto para o diálogo com Sharon: "Espero que ele esteja falando sério. Estamos preparados, como dissemos, para encontrá-lo ou encontrar Peres várias vezes".
Em entrevista coletiva em Jerusalém, após reunião com Sharon, Blair fez um novo apelo pelo diálogo: "É importante que façamos todo o possível para encontrar o caminho de volta para um processo de paz viável no Oriente Médio. O atual ciclo de derramamento de sangue deve acabar".
Blair, que se encontrou com Arafat em Gaza antes de concluir seu giro diplomático na região e que deverá ir a Washington no dia 7 para apresentar os resultados ao presidente George W. Bush, defendeu a "criação de um Estado palestino junto a um Israel com fronteiras seguras". Ele pediu, contudo, que os muçulmanos "não permitam que sua fé seja sequestrada por extremistas".
Pouco antes de sua chegada a Jerusalém (coincidentemente no 84º aniversário da Declaração Balfour, na qual o governo britânico expressou apoio à criação de um Estado judeu na Palestina), dois suspeitos de terrorismo foram mortos numa ofensiva com helicóptero na periferia de Tulkarem, uma das cidades ocupadas.
A operação levou Blair a uma crítica indireta: "Creio que qualquer medida relativa à segurança [de Israel" deva ser adotada segundo o direito internacional".
Sharon defendeu sua política com uma pergunta: "O que trará a paz antes? A morte de outros 30, 40 ou 50 israelenses ou que [os extremistas" sejam detidos?".
Os dois mortos, membros do grupo extremista islâmico Hamas, estavam com mais uma pessoa num carro que foi atingido por mísseis disparados pelo helicóptero israelense. Testemunhas afirmaram que um dos corpos ficou tão carbonizado que era impossível fazer o reconhecimento.
De acordo com o Exército de Israel, os dois palestinos planejavam um atentado suicida. A prisão dos suspeitos foi pedida à Autoridade Nacional Palestina, disse Sharon.
Funcionários da ANP disseram, porém, não saber que eles eram procurados. No fim do dia, em Hebron, Israel sequestrou um dirigente do Hamas.
Ao menos 688 palestinos e 182 israelenses foram mortos na nova Intifada (levante), iniciada em 28 de setembro do ano passado.


Com agências internacionais



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