São Paulo, sábado, 02 de novembro de 2002

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Intensidade da tristeza em vilarejo é insuportável

PETER POPHAM
DO "THE INDEPENDENT", EM SAN GIULIANO DI PUGLIA

O centro de esportes de San Giuliano di Puglia, uma estrutura moderna de concreto a centenas de metros do centro do vilarejo, abriga hoje uma tristeza imensurável. É para cá que as vítimas do tremor de anteontem foram trazidas para um velório coletivo.
Um grito terrível escapa do ginásio, amplificado pelo teto côncavo. O corpo de Melissa, um dos últimos a serem retirados dos escombros da escola, chegou e foi estendido, como a maioria dos outros, em um pequeno caixão branco. Sua avó, ao entrar, grita: "Melissa! Melissa! Por quê?"
Depois da terrível noite de San Giuliano -13 pequenos cadáveres foram retirados das ruínas entre a meia-noite e às 8h, e apenas um menino, Angelo, foi resgatado com vida- o vilarejo estará para sempre dividido entre aqueles cuja longa espera ao redor dos destroços da escola foi recompensada por aplausos barulhentos e aqueles que, como a família de Melissa, não receberam nada.
Alguns pais colocaram objetos nos caixões: bichos de pelúcia, roupas, fotografias. Um menino tem a camisa de seu time de futebol estendida sobre o peito. Seu pai e sua mãe tocam sua cabeça.
A intensidade da tristeza aqui é insuportável.
San Giuliano é um vilarejo bonito, com uma igreja do século 14, uma torre medieval e 1.200 habitantes. Mas qual é seu futuro?
Na entrada do ginásio, Matteo Campanelli, 69, que perdeu quatro netos, diz que é como se a próxima geração tivesse sido apagada. "Que os anjos os recebam."
Dos nove alunos da primeira série, só Veronica, 7, sobreviveu.
Um grupo de idosos sentado em cadeiras de plástico observa o monumento no centro de San Giuliano com os nomes dos 48 filhos do vilarejo mortos durante a Segunda Guerra. "Para que a Itália vivesse eles morreram", diz a mensagem na pedra. Mais da metade disso morreu aqui em um dia. E não há consolos patrióticos.


Com agências internacionais

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