São Paulo, sábado, 02 de novembro de 2002

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MÍDIA

Segundo o aprovado pela Câmara, somente informações oficiais podem ser publicadas na cobertura de casos de terrorismo

Rússia vai censurar imprensa em ações antiterror

DA REDAÇÃO

Os deputados russos aprovaram na Duma (Câmara Baixa do Parlamento) leis para restringir a cobertura da imprensa durante ações antiterroristas.
As medidas de censura já tramitavam antes da crise envolvendo a tomada de mais de 800 reféns por terroristas tchetchenos num teatro de Moscou, na semana passada. Foram aprovadas por 231 votos a 106 e ainda ainda precisam ser ratificadas pelo Conselho da Federação (Câmara Alta), onde o governo, que apóia a iniciativa, tem maioria.
Apesar de ainda não terem entrado em vigor, as regras atraíram novamente a atenção de entidades internacionais de defesa das liberdades de imprensa para o histórico controverso das relações entre o presidente russo, Vladimir Putin, e a mídia.
O presidente tem se envolvido em confrontos com emissoras privadas de TV e de rádio e editoras de jornais no país, o que levou algumas delas a reclamar de pressões e de tentativa de censura.
O Kremlin mostrou-se extremamente contrariado com as acusações de jornalistas de que as autoridades não procuraram negociar uma saída pacífica com os terroristas no caso do teatro.
Os críticos também contestaram o uso de um gás que acabou matando 117 reféns e mandou centenas para o hospital.
"Eu não acho que isso seja uma limitação das liberdades democráticas", disse Viktor Ozerov, presidente do Comitê de Segurança e de Defesa do Conselho da Federação. "Em situações como essa [a do teatro], apenas informações de fontes oficiais devem ser usadas. Informações de segunda mão não podem ser difundidas."
Ainda não estava claro quem seria o responsável pela aplicação das novas regras, mas uma entrevista de ontem do ministro da Informação, Mikhail Lesin, ao diário "Izvestia" o indicava como o candidato mais provável.
"Os terroristas tinham um bem montado plano de mídia", disse Lesin ao "Izvestia". "Eles estavam bem preparados, no que se refere a conhecer a mídia e os jornalistas da Rússia", afirmou o ministro.
O secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas da Rússia, Mikhail Fedotov, disse à rádio Ekho, de Moscou, que "a vida das pessoas é mais importante do que o direito à informação". "Se você entende que suas palavras podem piorar uma situação envolvendo reféns, você tem de se calar. Manter-se calado é que é o problema."
Sob as novas medidas legais, a imprensa não teria podido, por exemplo, noticiar o uso de gases na ação que colocou um fim no sequestro de Moscou.
A imprensa não poderia também divulgar informações ou citações que pudessem ser consideradas perigosas para a condução das operações antiterroristas.
Agora, passa a ser proibido tornar públicas quaisquer declarações de terroristas julgadas como propaganda.
Durante o cerco ao teatro, as autoridades proibiram o canal privado de televisão NTV de transmitir declarações de Movsar Barayev, o líder do comando terrorista que tomou os reféns.
Apesar da censura, a maioria dos jornais e das emissoras de TV da Rússia enalteceu o modo com Putin lidou com a crise. A primeira pesquisa de opinião feita após o fim do cerco deu 85% de aprovação popular às ações do governo.


Com agências internacionais

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