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São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2003

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GUERRA SEM LIMITES

Dois anos depois do 11 de Setembro, repressão das fontes de financiamento está perto da estaca zero

Caça ao dinheiro do terror não progride

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O plano parecia óbvio e sensato logo após o 11 de Setembro: sufocar o terrorismo por meio da interrupção de suas fontes de financiamento. Passados dois anos, no entanto, as coisas estão ainda muito próximas da estaca zero.
Nos primeiros meses após o atentado contra o World Trade Center, uma rápida mobilização de 144 países permitiu congelar US$ 113 milhões de dólares supostamente pertencentes à Al Qaeda.
Foi um dos efeitos da pressão de Washington e da solidariedade internacional às vítimas norte-americanas. Mas a caça aos ativos terroristas ficou por aí.
Se as coisas a seguir se complicaram foi porque as redes financeiras clandestinas são também utilizadas pela corrupção e sobretudo pelo narcotráfico, que movimentam fundos mais volumosos.
Há a respeito documentos da ONU e pautas das assembléias do Gafi (Grupo de Ação Financeira sobre a Lavagem de Capitais), sediado em Paris e ligado à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Não há estimativas precisas sobre o volume global de lavagem de dinheiro. Seriam centenas de bilhões de dólares por ano.
Quanto ao dinheiro à disposição do terrorismo islâmico, há o relatório que a ONU publicou em agosto do ano passado. O documento diz que apenas a Al Qaeda ainda teria de US$ 30 milhões a US$ 300 milhões. E receberia todos os anos algo em torno de US$ 16 milhões.
A informação foi, na época, contestada pelo Departamento do Tesouro dos EUA, provavelmente porque indicaria certa ineficácia do cerco ao terror.
Segundo outro documento também da ONU, este de fevereiro último, saíram da Arábia Saudita, país de Osama bin Laden, US$ 500 milhões para a Al Qaeda nos últimos dez anos. O governo daquele país não conseguiu bloquear os dutos de financiamento.

Clima favorável
A ONU já aprovou por meio do Conselho de Segurança duas resoluções que exortam os Estados-membros a reprimir a lavagem de dinheiro destinada aos terroristas. Há no organismo internacional um grupo de especialistas encarregado de monitorar a Al Qaeda. Funciona também um segundo grupo, no Conselho de Segurança, e um terceiro, em Viena, responsável por medidas de combate ao crime organizado.
O FMI (Fundo Monetário Internacional) também entrou de início no mutirão para localizar ativos do terrorismo. Chegou a publicar um longo relatório em novembro de 2001. Mas não foi muito adiante por não estar tecnicamente equipado para atuar como polícia financeira. Prefere assessorar seus membros para que eles se regulamentem.
Já havia nos anos 90 um clima internacional favorável ao combate coordenado da lavagem de dinheiro. Falava-se mais em narcotráfico. Com o 11 de Setembro o processo se dinamizou entre os países islâmicos interessados em boas relações com os EUA.
Exemplo: criou-se uma entidade de oito países (como Malásia, Paquistão e Sudão) que procura unificar critérios para a repressão a entidades supostamente filantrópicas, mas que, na verdade, arrecadam fundos para guerrilheiros na Tchetchênia e alhures.
Há também fracassos flagrantes, como o de Bangladesh, onde, segundo a BBC, um estudo revela que traficantes, trabalhadores emigrados e políticos corruptos movimentaram US$ 6 bilhões em dinheiro frio ou sujo no primeiro semestre deste ano.



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