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São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2003

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Líderes no Brasil traçam plano eleitoral

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil tem 734 mil índios, cerca de 200 mil deles com título de eleitor. Nas últimas eleições, eles não elegeram nenhum dos 20 candidatos indígenas a deputado estadual e federal. Um candidato a senador está ocupando a segunda suplência pelo Acre.
Nas eleições municipais de 2000, foram 331 candidatos indígenas a vereador, dez a vice-prefeito e um a prefeito. Foram eleitos 80 vereadores, sete vice-prefeitos e um prefeito.
O prefeito solitário, Marcos Antonio dos Santos (PMDB), da etnia potiguara, administra a pacata Baía da Traição, na Paraíba, vilarejo de 6.800 pessoas na área urbana apertada entre o rio e o mar, 80 km ao norte de João Pessoa. Na zona rural, estão as 16 aldeias que reúnem mais de 8.000 indígenas e que deram a vitória a Santos, pela segunda vez.
As lideranças indígenas querem dobrar esses números nas próximas eleições. Por exemplo, aumentando o número de índios com título de eleitor, já que votar para eles é facultativo. No Alto Rio Negro, o Balcão da Cidadania, um barco que sobe o rio a partir de São Gabriel da Cachoeira tirando documentos, já concedeu 3.000 títulos eleitorais.
Em outra frente, no início de novembro, a Coiab, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, realiza em Manaus um encontro para traçar estratégias eleitorais.
A intenção é lançar candidatos envolvidos com as questões indígenas, o que não ocorre com boa parte dos atuais eleitos, abrigados em quase todos os partidos e sob o comando dos "brancos".
"Não basta apenas elegê-los, é preciso organizações que possam apoiá-los para lidarem com a agressividade, a competitividade e as inúmeras formas de cooptação", diz Egon Heck, consultor da presidência do Cimi, Conselho Indigenista Missionário.
Considerando apenas os índios que vivem em seu território, eles seriam cerca de 380 mil e sua representação é praticamente nula. "Eles concorrem numa situação desigual, sem poder econômico e sob a pressão dos outros candidatos", diz o antropólogo Ricardo Verdum, assessor de políticas indígena e ambiente da ONG Instituto de Estudos Socioambientais.
"Há muitas lideranças em condições de exercer o poder", afirma Antonio Apurinã, diretor de assistência da Funai. Ocupar espaço político é um objetivo de curto prazo, dizem as lideranças. "É uma forma de aprender, de participar, e aí construir um parlamento próprio", diz Bonifácio José, da etnia baniwa, presidente da Fundação Estadual de Política Indigenista da Amazônia.



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