Pressionada, facção afegã apresenta seus nomes para governo provisório; presidente Rabbani perde poder

DA REDAÇÃO

A Aliança do Norte apresentou ontem sua lista de candidatos a um governo transitório no Afeganistão, cedendo à pressão de mediadores da ONU e diplomatas dos EUA, segundo Ahmad Fawzi, porta-voz das Nações Unidas.
A medida da Aliança ajuda a reduzir o impasse em que se encontrava a reunião sobre o futuro afegão, que acontece em Bonn -o grupo era o único entre as quatro facções participantes do encontro que ainda não havia definido seus candidatos. Segundo Fawzi, uma decisão sobre o novo governo do país pode sair ainda hoje.
Pela proposta da Aliança do Norte, grupo que agora controla mais da metade do território afegão, entre 20 e 30 líderes governarão o país por três meses antes da realização de uma Loya Jirga, a reunião decisória afegã mais tradicional e importante.
O plano da Aliança do Norte reduz o poder de seu principal líder político, Burhanudin Rabbani, que perde o status de presidente que possui atualmente.
Internacionalmente, Rabbani é reconhecido como presidente do Afeganistão, mesmo após a ascensão do Taleban ao poder em 1996. Nos últimos dias, o líder político, que não participa do encontro em Bonn, vinha dizendo que as decisões sobre seu país deveriam ser tomadas dentro do Afeganistão, em sinal de desacordo com o restante da delegação da Aliança que seguiu para Bonn.
O chanceler da Aliança do Norte, Abdullah Abdullah, afirmou que Rabbani não encabeçará o futuro governo provisório, cujo líder pode ser de outra facção presente na reunião da ONU.
Antes do anúncio da mudança de posição da Aliança, as demais delegações afegãs haviam chegado a um pré-acordo, pelo qual o governo transitório teria entre 15 e 20 pessoas. A proposta foi anunciada ante a impossibilidade de chegar a um compromisso para a criação de órgãos legislativos e executivos mais amplos. O governo interino pode incluir o antigo rei Zahir Shah, deposto em 1973.
O pré-acordo e a proposta do grupo do chanceler Abdullah Abdullah coincidem em que a Loya Jirga nomeará um novo Conselho Superior de Transição e definirá a Constituição, no prazo de dois anos, quando haverá eleições.

Tropas estrangeiras
Younis Qanouni, chefe da delegação da Aliança do Norte, disse ontem que os EUA devem deixar o Afeganistão "quando não houver mais terrorismo".
"Quando não houver mais terrorismo, acho que os EUA devem continuar seu combate em outra parte. As tropas estrangeiras no Afeganistão não resolverão os problemas, criarão novos."