São Paulo, terça-feira, 02 de dezembro de 2008

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Senadora leva ao gabinete política externa pragmática, porém dura

DE NOVA YORK

A nomeação da ex-rival Hillary Clinton como secretária de Estado projeta a intenção do presidente eleito dos EUA, Barack Obama, de adotar uma abordagem pragmática, porém dura, em política externa. Mas a senadora leva também ao gabinete uma maior prontidão em defender o uso da força em conflitos internacionais.
Durante a disputa pela candidatura democrata à Casa Branca, Obama criticou Hillary por seu voto, em 2002, a favor da invasão do Iraque. Ela nunca lamentou a decisão, mas se tornou uma das mais duras críticas do governo Bush e prometeu acabar com a guerra se fosse eleita. Seu plano era começar a retirada das tropas 60 dias após a posse; o de Obama prevê a saída da maior parte dos soldados em até 16 meses.
Um ponto crucial em que ambos concordam é a necessidade de transferir o foco da guerra ao terror do Iraque para o Afeganistão. A senadora quer fazer da fronteira entre o país e o Paquistão a frente de ação principal contra a Al Qaeda, designando um enviado para desenvolver as políticas dos EUA.
Suas posições em relação ao Irã, país que desenvolve um programa nuclear que Washington teme ser bélico, também refletem o estilo duro. Ela exortou um reforço da diplomacia com o país mas, ao mesmo tempo, não descartou ação militar. Como secretária de Estado, poderá ter de levar a cabo uma política de Obama que no passado ela caracterizou como ingênua: a de realizar encontros de alto escalão com governos hostis, inclusive Teerã.
A senadora também é partidária da tese de "promover a democracia no mundo árabe". Em relação a Israel, ela já atraiu críticas de grupos judaicos por ter defendido o estabelecimento de um Estado palestino, mas em geral se alinha a interesses israelenses em política externa.
Na América Latina, Hillary é contra o fim do embargo econômico a Cuba.
Sobre a China, fez, em campanha, declarações fortes contra o impacto do gigante asiático nos EUA, que estaria causando uma "erosão lenta de nossa soberania econômica". Também pediu a Bush que não comparecesse à abertura dos Jogos Olímpicos em Pequim devido à repressão no Tibete.
No comércio, Hillary se diz cética quanto ao Nafta (Tratado de Livre Comércio da América do Norte) e é contra a proposta de tratado de livre comércio com a Colômbia, supostamente devido à violência contra sindicalistas no país.
A próxima secretária de Estado defende ainda uma ação vigorosa para revitalizar a "decadente" credibilidade dos EUA no mundo. Ela deverá coordenar a tarefa com Susan Rice, indicada por Obama para representar os EUA na ONU.
Rice deve ganhar de Obama status de ministra e assim se sentar ao lado de Hillary no gabinete, em uma mistura perigosa de egos e posições diferentes.
"Podemos esperar algumas discordâncias", afirmou à Folha Stewart Patrick, analista sênior do Council on Foreign Relations. "Susan Rice também tem uma personalidade extremamente poderosa e tenaz. Caberá a Obama determinar exatamente a atuação de cada uma. Mas o resultado pode ser positivo, pois ele já disse que espera opiniões diversas."
As duas mulheres divergem, entre outras coisas, a respeito da necessidade de intervenções militares. Em 2007, por exemplo, Hillary afirmou em um debate democrata que não acredita que tropas americanas devem ser enviadas a Darfur (Sudão), bandeira de Rice. (AM)


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