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Greve ainda não "cansou", afirmam analistas
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
Após um mês de greve geral,
sem nenhum sinal de que o governo de Hugo Chávez vá ceder à
pressão oposicionista, os organizadores da paralisação não dão
mostras de que poderão abandonar o movimento, na avaliação de
analistas consultados pela Folha.
"As pesquisas mostram que o
apoio à greve geral aumentou ao
longo do mês", diz Alfredo Keller,
do instituto de pesquisa Alfredo
Keller e Associados. Segundo levantamentos do instituto, 16%
dos venezuelanos diziam apoiar
totalmente a greve geral em seu
início. Na semana passada, esse
índice já havia subido para 54%.
As declarações do líder oposicionista Américo Martín, um dos
dirigentes da Coordenação Democrática (organização que reúne partidos, organizações e entidades da oposição) -que anteontem anunciou uma suspensão "parcial" da greve, com o retorno ao trabalho dos pequenos
comerciantes-, também não foram consideradas uma mostra de
cansaço da oposição.
"Sua declaração parece ser mais
uma estratégia política, para alertar sobre a ampliação do movimento a partir da semana que
vem, quando recomeçam as aulas
e termina o recesso tradicional do
Ano Novo", diz a analista Maria
Teresa Romero, da Universidade
Central da Venezuela.
Para ela, a próxima segunda-feira será o grande teste da paralisação. "Com o fim do recesso, vamos ver se as atividades começam
a se normalizar ou não", diz ela,
acrescentando que os sinais dos
últimos dias "parecem indicar
que a greve vai seguir igual".
Os analistas consideram que a
oposição concentra todas as suas
fichas na paralisação da indústria
de petróleo, o setor mais sensível
da economia venezuelana, responsável por 80% das exportações do país. "A greve no setor petrolífero é fundamental para a
oposição", diz Romero. "O governo diz que está tudo normal, mas,
ao mesmo tempo, seus porta-vozes dizem que as tentativas de solucionar a crise, como a chegada
de um navio com gasolina do Brasil, foram paliativas", diz.
Para ela, se a proposta da oposição de boicotar o pagamento de
impostos for seguida, será "um
coquetel molotov contra o governo". "Com as exportações de petróleo paralisadas e o pagamento
de impostos estancado, o governo, sem receita, teria de queimar
ainda mais reservas internacionais, agudizando a já grave crise
econômica", afirma.
"A paralisação no comércio não
tem muito sentido prático, porque não afeta o governo como a
paralisação no setor petrolífero",
diz Alfredo Keller. "Por necessidade de fluxo de caixa, os pequenos comerciantes não podem ficar parados", afirma.
Para ele, "o governo comete um
erro de estratégia ao dizer que a situação está normal". "Agindo assim, ele entram em contradição
com as evidências e perde credibilidade", afirma. Segundo ele, a última pesquisa realizada por seu
instituto mostrou que as posições
do governo perdem apoio até
mesmo entre os simpatizantes de
Chávez -70% dos chavistas já
consideram que uma saída eleitoral é a melhor solução para a atual
crise política no país.
O governo procura manter sua
base de apoio, concentrada principalmente entre a camada mais
pobre da sociedade, atendendo-a
de maneira privilegiada durante a
atual crise. Para contrapor o desabastecimento provocado pela
greve geral, o governo vem organizando grandes mercados populares nos bairros mais pobres,
além de priorizar os postos de gasolina das zonas mais populares
na hora de distribuir combustível.
Segundo Keller, há uma espécie
de "auto-racionamento" promovido pelos consumidores que
apóiam a greve geral. "Eles estão
consumindo menos combustível
e menos alimentos, porque consideram isso também uma atitude
política de contrariedade ao governo", diz.
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