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São Paulo, segunda-feira, 03 de fevereiro de 2003

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VIZINHO EM CRISE

Movimento ficará restrito a setor petrolífero; Chávez classifica decisão de "derrota definitiva" dos opositores

Oposição atenua a greve na Venezuela

DA REDAÇÃO

A oposição venezuelana anunciou que restringiria a greve iniciada há dois meses para forçar a saída do presidente Hugo Chávez. Alejandro Armas, um dos porta-vozes da Coordenação Democrática, disse anteontem que apenas o setor petrolífero continuaria afetado pelo movimento.
"A greve geral atingiu seus objetivos, e o movimento entra agora numa nova fase", disse Armas.
Chávez reagiu ontem à decisão de maneira previsivelmente eufórica. Classificou-a de "derrota definitiva" dos oposicionistas e voltou a se referir em termos duros ao movimento de seus adversários. Disse se tratar de uma "iniciativa malévola e criminosa para afundar o governo e o Estado".
A greve foi lançada a 2 de dezembro último para forçar a antecipação das eleições presidenciais, marcadas para 2006.
Governo e oposição divergem sobre o grau de adesão à greve na estatal do petróleo, responsável pelo setor-chave da economia. Mais de 5.000 grevistas da PDVSA foram demitidos desde dezembro passado.
Partidários de Chávez argumentam que a produção já atingiu 2 milhões de barris por dia, longe dos 5 milhões de novembro, enquanto os grevistas dizem que ela está abaixo de 1 milhão.
A oposição concentra também seus esforços numa operação que designou de "El Firmazo", destinada à coleta maciça de assinaturas entre os 12 milhões de eleitores para forçar a abreviação do mandato de Chávez.
O presidente não comentou a iniciativa. A operação ("firma" é assinatura, em castelhano) não é uma iniciativa inédita.
Até o início da noite de ontem, era desconhecido o número de assinaturas coletadas. A Coordenação Democrática tem como meta obter 5 milhões.
Para atrair tantos venezuelanos, funcionaram ontem 4.000 mesas de coleta em lugar das 3.400 planejadas. O movimento tem 30 mil voluntários, de acordo com seus dirigentes.
As assinaturas seriam encaminhadas à OEA (Organização dos Estados Americanos), que tem participado da mediação da crise, à União Européia e ao Grupo de Amigos da Venezuela (Brasil, Chile, Espanha, Estados Unidos, México e Portugal), formado por sugestão do Brasil para buscar uma solução para a crise.
Em termos legais, o abaixo-assinado quer forçar o governo a aceitar a tramitação de uma emenda constitucional pela qual o mandato de Chávez seria reduzido de seis para quatro anos.
Com isso, o atual presidente, eleito em 1998, deveria abrir caminho para sua sucessão.
Pela Constituição, quando o Executivo não toma a iniciativa de mudar as regras do jogo, a oposição pode fazê-lo -desde que reúna a assinatura de 15% dos eleitores. Ou seja, 1,8 milhão de venezuelanos, bem abaixo da meta fixada pelos líderes da operação.
A decisão de concentrar a greve só no segmento petrolífero -de longe, o principal da economia venezuelana- foi tomada depois de encontro de dirigentes da oposição com representantes do Grupo de Amigos da Venezuela.
Um dos grupos favoráveis a Chávez, autodenominado Carapaica, anunciou que procuraria tumultuar a coleta de assinaturas. No ano passado, cinco pessoas foram feridas quando integrantes dessa organização abriram fogo contra a Polícia Metropolitana, ligada à administração municipal de Caracas -de oposição.
Até ontem à noite, havia sido registrado um único incidente, no qual o confronto entre partidários do governo (que incendiaram um carro de reportagem de uma TV opositora) e coletores de assinaturas foi dispersado pela polícia com gás lacrimogêneo.
O mais sério indício de que a greve geral se esvaziava foi dado na última quarta-feira pelo setor financeiro, que anunciou, por dois terços dos votos de seus dirigentes, a decisão de operar normalmente bancos e corretoras a partir de hoje.
A volta gradativa à normalidade econômica se deve também à decisão de empresários, mesmo os mais intransigentes, de reabrir suas portas para evitar o risco de quebradeira. Gestores de centros comerciais, restaurantes e escolas particulares deverão também voltar hoje à normalidade.
Em entrevista publicada ontem, Hugo Chávez exprimiu o desejo de que a guerrilha marxista colombiana se transforme em um movimento político pacífico e tradicional e disse que a Venezuela tem sido bem-sucedida ao evitar que o fenômeno transborde para dentro de suas fronteiras.


Com agências internacionais


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