São Paulo, quinta-feira, 03 de fevereiro de 2011

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Imprensa vira alvo de ataques no Cairo

Simpatizantes de Mubarak agridem jornalistas; Folha tem seu quarto de hotel invadido por agentes do governo

EUA e Repórteres sem Fronteiras condenam agressões; porta-voz diz que envolvimento do governo é "ficção"

DO ENVIADO AO CAIRO

Um fotógrafo do "Wall Street Journal" foi espancado e outro teve a roupa rasgada. Um repórter da rádio France Inter está internado após ser linchado. O âncora da TV CNN Anderson Cooper foi golpeado na cabeça. Um jornalista belga passou horas preso acusado de ser espião.
Esses são alguns dos casos de agressões contra jornalistas estrangeiros, que se tornaram alvo direto dos simpatizantes do ditador Hosni Mubarak, ontem no Cairo.
A Folha teve seu quarto de hotel invadido no fim da tarde por três homens de terno e gravata. Eles bateram na porta e, embora cordiais e sorridentes, não esperaram o aval do repórter para entrar no apartamento em busca, segundo eles, de máquinas fotográficas e filmadoras.
Os homens, aparentemente um funcionário do hotel acompanhado de dois agentes do governo, foram direto até a varanda, que tem uma vista privilegiada sobre o centro do Cairo, principal palco da revolta antigoverno.
Sem armas aparentes, os invasores percorreram o apartamento durante cerca de um minuto e justificaram a busca dizendo, em inglês, que estava proibido fotografar e filmar a partir do hotel. Foram embora sem levar nada e bateram em seguida na porta do quarto vizinho.
Enviados especiais dos jornais "O Estado de S. Paulo" e "O Globo"" também tiveram apartamentos invadidos.
O hotel Hilton, onde a Folha se hospeda, barrou o acesso dos egípcios que vinham trabalhando com os jornalistas estrangeiros. Foi decretada, ainda, a proibição de fazer entrevistas pessoais dentro do prédio e até mesmo na calçada em frente.
O cumprimento das regras é monitorado por policiais à paisana. Com isso, os jornalistas enfrentam um dilema: ficar seguros dentro do hotel, mas sem acesso à informação, ou se expor ao risco do ambiente de guerra civil.
Embora não haja evidência de que o governo tenha ordenado ataques, a hostilidade vem essencialmente de apoiadores de Mubarak.
Na CNN, além de Anderson Cooper, Hala Gorani também disse ter sido ameaçada. Segundo a rede de TV, ninguém se feriu seriamente.
Detido e acusado de espionagem, o belga Serge Dumont, do "Le Soir", afirmou ter sido golpeado na cabeça por civis não identificados. Segundo a Rádio Israel, quatro jornalistas israelenses foram presos, acusados de violação ao toque de recolher.
O catalão Joan Roura, do canal TV3, foi agredido durante transmissão ao vivo. Segundo a ONG Repórteres sem Fronteiras, há relatos de ataques a jornalistas de BBC, ABC, Al Jazeera e Al Arabiya, entre outros órgãos.
O secretário-geral da Repórteres sem Fronteiras, Jean-François Juilliard, classificou os ataques de "chocantes". Robert Gibbs, porta-voz da Casa Branca, disse que os EUA estão "muito preocupados" com ataques à mídia e a protestos pacíficos.
Magdy Rady, porta-voz do governo Mubarak, chamou de "ficção" o envolvimento do regime em ataques a repórteres. Segundo ele, a cobertura dos conflitos interessa aos governistas.0 (SA)

Com agências de notícias


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