São Paulo, quinta-feira, 03 de fevereiro de 2011

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DEPOIMENTO

Nunca me senti tão ameaçado em um conflito quanto ontem

DO ENVIADO AO CAIRO

Apesar de já ter realizado várias coberturas em lugares adversos para o exercício jornalístico, como o Iraque, o Iêmen e a Síria, jamais me senti tão ameaçado como ontem.
O momento mais tenso ocorreu durante a tarde, quando eu estava no meio de milhares de manifestantes favoráveis ao ditador do Egito, Hosni Mubarak, que tentavam tomar a praça Tahrir, no centro do Cairo.
Os grupos a favor de Mubarak recuavam a cada contraofensiva inimiga. Eram duas marés humanas que avançavam uma contra a outra sem nunca se misturar, feito água e óleo.
Pedras voavam a todo instante. Gritos de guerra como "Allah Akbar" (Deus é o maior) surgiam em meio ao mugido uniforme das massas em fúria. Acabei encurralado em um empurra-empurra contra um tanque.

"QUEM É VOCÊ?"
Um manifestante transtornado se aproximou de mim pedindo que eu me juntasse a um grupo que estava prestes a lançar mais um ataque.
Diante do meu silêncio, o rapaz me perguntou: ""Quem é você?". Respondi que era da imprensa estrangeira. O manifestante exigiu, então, que lhe dissesse de que lado do conflito eu estava. Desconversei e saí do lugar a largas passadas, desaparecendo na multidão.
Se o rapaz tivesse alertado as pessoas em volta de que havia um suposto inimigo entre eles, eu poderia ter sido linchado.
Naquele mesmo momento, vários colegas estavam sendo agredidos em outros lugares da praça.
Tudo isso ocorreu a cerca de 600 metros do meu hotel. Durmo e acordo com barulhos de guerra -povo em marcha, ambulâncias e tiros ocasionais.
(SAMY ADGHIRNI)


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