São Paulo, domingo, 03 de março de 2002

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CONFLITOS

Governo diz controlar a situação desde o fim da tarde de ontem

Violência religiosa mata mais 35 na Índia

DA REDAÇÃO

Novos enfrentamentos violentos marcaram o dia de ontem no Estado de Gujarat, no oeste da Índia, enquanto o premiê Atal Behari Vajpayee exortou a população a buscar a paz e enviou novas tropas à região, que vive o pior conflito religioso dos últimos dez anos.
Apesar da intensa movimentação dos milhares de soldados -fortemente armados- que estão em Gujarat, ao menos 35 pessoas foram queimadas vivas em dois enfrentamentos distintos envolvendo hindus e muçulmanos.
O saldo dos quatro dias de violência religiosa é de cerca de 300 de mortos (a maioria dos mortos é muçulmana), mas, segundo moradores da região, ele pode ser muito mais elevado.
Essa nova onda de violência religiosa teve início na última quarta-feira, quando, supostamente, um grupo de muçulmanos ateou fogo a um trem que transportava fiéis hindus, matando 58 pessoas, incluindo mulheres e crianças.
"Não importa que tipo de provocação seja feita. As pessoas devem manter a paz e demonstrar moderação. Queimar pessoas, incluindo mulheres e crianças, é uma vergonha para o país", declarou o primeiro-ministro num pronunciamento transmitido por todas as redes de televisão do país.
Mas, nas ruas, alguns membros da maioria hindu indiana pareceram não dar ouvidos a seu apelo. "Venha aprender conosco a queimar muçulmanos", dizia um jovem após pichar a mesma frase num muro no vilarejo de Naroda, situado na periferia da capital de Gujarat, Ahmedabad.
Após o terceiro dia de violência, anteontem à noite, já não havia mais nenhum imóvel que não tivesse sido atacado no vilarejo de Naroda.
"Existem momentos em que um país é testado. Esse tipo de situação foi criado agora por causa da violência em Gujarat", afirmou Vajpayee.
Ontem ao menos 27 pessoas foram queimadas vivas num vilarejo de maioria muçulmana, e oito outras perderam a vida da mesma forma quando um grupo ateou fogo a uma padaria.
As autoridades de Gujarat já interpelaram mais de 1.200 pessoas desde o início dos conflitos religiosos e, por enquanto, parecem ter conseguido evitar que a violência se alastre por outros Estados indianos. Impondo um toque de recolher e autorizando as forças de segurança a atirar em quem o desrespeitasse, elas conseguiram conter a violência na noite de ontem. Duas pessoas que violaram o toque de recolher foram mortas por policiais.

Templo hindu
O ataque ao trem da última quarta-feira fez com que houvesse uma escalada da violência entre hindus e muçulmanos. Mas a situação já era tensa, pois há uma disputa sobre a eventual construção de um templo hindu num local em que existia uma mesquita.
Os milhares de soldados enviados à região não tinham conseguido conter a violência até a chegada de novos reforços no final da tarde de ontem. De acordo com as autoridades, novas tropas deveriam chegar à região durante a madrugada de hoje.
Grupos armados bloquearam uma estrada na tarde de ontem para impedir que a polícia chegasse ao local dos enfrentamentos mais graves, o vilarejo de Bijapur (de maioria muçulmana).
"Os homens bloquearam uma estrada e não permitiram que a polícia chegasse ao local", afirmou Ashok Narayan, funcionário dos serviços de segurança do governo. Ele acrescentou, porém, que, mais tarde, a polícia conseguiu furar o bloqueio e chegou à cidade, resgatando 40 pessoas que estavam em perigo.
Enquanto uma calma relativa tinha sido restabelecida em Ahmedabad, onde boa parte das mortes ocorreram, Narayan disse que a situação na zona rural ainda era "bastante ruim".
"Estamos tentando enviar reforços para essas regiões, além de buscarmos incentivar o diálogo entre grupo rivais. Tentaremos montar comitês locais para discutir a paz. Esses comitês terão representantes de todas as comunidades e iniciarão o diálogo logo", declarou Narayan à agência de notícias Reuters.
Nas áreas de maioria hindu de Ahmedabad, homens portando pedaços de madeira e barras de ferro vasculharam as ruas o dia todo. Há rumores de que os muçulmanos possam organizar ataques retaliatórios. Contudo as forças de segurança garantem ter a situação sob controle.
De acordo com as autoridades da cidade, grupos de muçulmanos de algumas áreas estão sendo transferidos para regiões mais seguras -encraves muçulmanos sob proteção máxima.


Com agências internacionais



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