UOL


São Paulo, segunda-feira, 03 de março de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GUERRA SEM LIMITES

Métodos obscuros e falta de articulação entre agências marca o início do Departamento da Segurança Interna

EUA abrem o criticado ministério antiterror

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Desinformação e o não-cumprimento de algumas metas anunciadas pelo próprio presidente George W. Bush marcam a estréia formal, hoje, do novo Departamento da Segurança Interna dos Estados Unidos.
O departamento nasce sob a apreensão de grupos de direitos civis, pois subordinará atividades de agências como o Serviço Secreto e de Imigração dos EUA, além de outras 22 áreas do governo.
Não está esclarecido, até aqui, como se dará o controle público sobre as atividades do departamento. Nem com que periodicidade e gerenciamento serão produzidos documentos que possam ser escrutinados por meio do Foia ("Freedom of Information Act", ou lei sobre a liberdade de informação), instrumento criado em 1966 que permite o acesso público a arquivos governamentais.
Prisões, serviços de espionagem e outras atividades que possam violar direitos civis serão conduzidos pelo departamento.
A retórica oficial, com o secretário Tom Ridge à frente, anuncia o departamento como a transformação mais significativa do governo desde que o presidente Harry Truman convergiu as ramificações das Forças Armadas no Departamento de Defesa, em 1947. Serão 60 mil pessoas envolvidas e um orçamento anual de US$ 36 bilhões. Na prática, porém, funcionários das agências reorganizadas reclamam que pouca coisa mudou desde o anúncio de sua criação, em 2002.
Não houve substancial troca de informações e de orientação para o trabalho do dia-a-dia. Os crachás das várias agências continuam os mesmos, e o novo departamento -cujo lema é "Não tenha medo. Esteja pronto"- vem sofrendo uma série de críticas sobre seus métodos.
Em particular depois da gangorra em que se tornou a adoção de códigos de segurança interna nos EUA -foi de amarelo (elevado) para laranja (alto) e voltou ao amarelo, sem maiores explicações, em fevereiro. Algumas das orientações emergenciais à população tornaram-se alvo de piada.
Há duas semanas, durante a vigência do "código laranja", o secretário Ridge chegou a ser questionado na TV sobre como as pessoas poderiam sobreviver sem ar fresco se atendessem à sua orientação de vedar totalmente, com fitas plásticas, cômodos da casa para a eventualidade de um ataque biológico. Ridge foi evasivo.
Na vigência do mesmo "código laranja", os americanos fizeram enormes estoques de água e comida por orientação do departamento de Ridge. Na quinta-feira passada, quando o código recuou novamente para a cor amarela, também não houve grandes explicações sobre o que teria levado à diminuição do risco de ataques.
Ao mesmo tempo, os americanos fracassaram totalmente no plano anunciado pelo próprio Bush, há um mês, de imunizar, em 30 dias, 500 mil funcionários da área de saúde contra varíola.
Completado o prazo, no dia 24 passado, apenas 4.200 pessoas haviam tomado a vacina -sendo que cerca de 30 delas apresentaram sérias reações adversas.


Texto Anterior: Análise: Vitória ocorre em momento crítico para a Casa Branca
Próximo Texto: Ação draconiana já se faz sentir nos aeroportos
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.