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ANÁLISE
Vitória ocorre em momento crítico para a Casa Branca
DAVID JOHNSTON
DO "THE NEW YORK TIMES"
De todos os marcos da campanha contra o terrorismo conduzida pela administração Bush nos
últimos 18 meses, a prisão de Khalid Sheikh Mohammed, possivelmente o mais temido dos auxiliares de Osama bin Laden, ocorreu
em um momento crítico.
Os críticos do presidente Bush
têm se queixado de que seu foco
no presidente Saddam Hussein
distraiu a nação da guerra contra
a Al Qaeda. Mas a prisão de
Sheikh Mohammed foi um duro
golpe para a rede terrorista e sinal
de boas notícias para os EUA.
Autoridades dos serviços de inteligência do país disseram ontem
que Sheikh Mohammed chegou a
representar uma grave ameaça
aos EUA. Certas autoridades
-algumas das quais suspeitam
que ele tenha iniciado suas atividades terroristas com o primeiro
ataque ao World Trade Center,
em 1993- afirmaram que ele
continuou a planejar operações
mesmo após os ataques de 11 de
setembro e depois de os EUA terem destruído a base de operações da Al Qaeda no Afeganistão,
no ano passado.
Desde então, dizem as autoridades, a rede terrorista tem tentado
infiltrar agentes secretos nos EUA
e chegou a iniciar um esforço,
através de um recruta seu, Jose
Padilla, para desenvolver uma
bomba radiológica que utiliza explosivos convencionais para lançar material radioativo no ar. Padilla foi preso em maio de 2002.
Ação global
Sheikh Mohammed também
tentou organizar células terroristas na Europa e no sul da Ásia e teve importante papel na tentativa
de capacitar a Al Qaeda no fabrico
de armas químicas e biológicas.
"À exceção de Bin Laden, não
há praticamente nenhuma outra
pessoa que gostaríamos tanto de
ter sob custódia", afirmou uma
importante autoridade dos serviços de inteligência dos EUA.
Embora Bin Laden ainda não
tenha sido pego e o segundo na
hierarquia na Al Qaeda, Ayman al
Zawahiri, também seja um alvo
valioso, Mohammed é visto como
o cabeça dos ataques do 11 de setembro e, ao mesmo tempo, como o mais habilidoso planejador
operacional da rede.
"Ele possui as chaves de ignição", afirmou Magnus Ranstorp,
diretor interino do Centro para o
Estudo do Terrorismo e da Violência Política da Universidade St.
Andrews, na Escócia. "Ele poderia
contar o que está sendo planejado, em que escala, quem está envolvido e onde eles estão. É uma
perda enorme para a Al Qaeda,
porque Sheikh Mohammed é o
homem responsável pelo contato
com os agentes secretos em todo
o mundo", disse Ranstorp.
Momento-chave
A prisão de Sheikh Mohammed
ocorre em um momento-chave
da campanha contra o terrorismo, quando ainda permanecem
grandes os temores de um ataque
catastrófico, estimulados pela
possibilidade de guerra com o Iraque. Além disso, a administração
Bush enfrenta crescente oposição
internacional, vinda de seus mais
antigos aliados, que estão tentando bloquear sua agenda no Conselho de Segurança da ONU.
A prisão de Sheikh Mohammed
sugere que os agentes contraterroristas dos EUA foram capazes
de uma ação direta, depois de vários meses em que o aparato de
segurança do governo parecia dar
sinais de estar enredado em espasmos de reorganização.
Previsto para nascer hoje, o Departamento da Segurança Interna
ainda parece estar lutando para
definir seu papel e seu objetivo.
Quando a captura de Sheikh
Mohammed por autoridades paquistanesas, monitoradas por
agentes da CIA e FBI, foi anunciada, autoridades dos serviços de
inteligência se mostraram esperançosos de que ele pudesse dar
informações mais valiosas sobre a
Al Qaeda do que qualquer outro
membro.
Segundo as autoridades, ele poderia descrever a organização, o
financiamento e o planejamento
dos ataques de 11 de setembro.
Além disso, por ser o chefe de
operações da Al Qaeda, ele poderia também explicar os planos de
eventuais novos ataques e fornecer novas pistas sobre o paradeiro
do próprio Bin Laden.
Ele também poderia dar informações mais detalhadas sobre a
capacidade operacional da Al
Qaeda. As autoridades afirmaram
que, se a rede do terror foi largamente desarticulada pela guerra
no Afeganistão, nunca ficou claro
o quanto Bin Laden tem sido feliz
em reconstruir sua capacidade de
produzir ataques terroristas.
A prisão de Sheikh Mohammed
parece fazer dele um provável
candidato a um tribunal militar,
embora ninguém no governo pareça seguro sobre quais procedimentos legais poderiam ser usados nesse caso.
Outros espiões da Al Qaeda que
foram presos permaneceram sob
custódia dos EUA em localidades
além-mar e foram interrogados
sob condições e padrões legais
que nunca ficaram claros.
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