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São Paulo, segunda-feira, 03 de março de 2003

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ANÁLISE

Vitória ocorre em momento crítico para a Casa Branca

DAVID JOHNSTON
DO "THE NEW YORK TIMES"

De todos os marcos da campanha contra o terrorismo conduzida pela administração Bush nos últimos 18 meses, a prisão de Khalid Sheikh Mohammed, possivelmente o mais temido dos auxiliares de Osama bin Laden, ocorreu em um momento crítico.
Os críticos do presidente Bush têm se queixado de que seu foco no presidente Saddam Hussein distraiu a nação da guerra contra a Al Qaeda. Mas a prisão de Sheikh Mohammed foi um duro golpe para a rede terrorista e sinal de boas notícias para os EUA.
Autoridades dos serviços de inteligência do país disseram ontem que Sheikh Mohammed chegou a representar uma grave ameaça aos EUA. Certas autoridades -algumas das quais suspeitam que ele tenha iniciado suas atividades terroristas com o primeiro ataque ao World Trade Center, em 1993- afirmaram que ele continuou a planejar operações mesmo após os ataques de 11 de setembro e depois de os EUA terem destruído a base de operações da Al Qaeda no Afeganistão, no ano passado.
Desde então, dizem as autoridades, a rede terrorista tem tentado infiltrar agentes secretos nos EUA e chegou a iniciar um esforço, através de um recruta seu, Jose Padilla, para desenvolver uma bomba radiológica que utiliza explosivos convencionais para lançar material radioativo no ar. Padilla foi preso em maio de 2002.

Ação global
Sheikh Mohammed também tentou organizar células terroristas na Europa e no sul da Ásia e teve importante papel na tentativa de capacitar a Al Qaeda no fabrico de armas químicas e biológicas.
"À exceção de Bin Laden, não há praticamente nenhuma outra pessoa que gostaríamos tanto de ter sob custódia", afirmou uma importante autoridade dos serviços de inteligência dos EUA.
Embora Bin Laden ainda não tenha sido pego e o segundo na hierarquia na Al Qaeda, Ayman al Zawahiri, também seja um alvo valioso, Mohammed é visto como o cabeça dos ataques do 11 de setembro e, ao mesmo tempo, como o mais habilidoso planejador operacional da rede.
"Ele possui as chaves de ignição", afirmou Magnus Ranstorp, diretor interino do Centro para o Estudo do Terrorismo e da Violência Política da Universidade St. Andrews, na Escócia. "Ele poderia contar o que está sendo planejado, em que escala, quem está envolvido e onde eles estão. É uma perda enorme para a Al Qaeda, porque Sheikh Mohammed é o homem responsável pelo contato com os agentes secretos em todo o mundo", disse Ranstorp.

Momento-chave
A prisão de Sheikh Mohammed ocorre em um momento-chave da campanha contra o terrorismo, quando ainda permanecem grandes os temores de um ataque catastrófico, estimulados pela possibilidade de guerra com o Iraque. Além disso, a administração Bush enfrenta crescente oposição internacional, vinda de seus mais antigos aliados, que estão tentando bloquear sua agenda no Conselho de Segurança da ONU.
A prisão de Sheikh Mohammed sugere que os agentes contraterroristas dos EUA foram capazes de uma ação direta, depois de vários meses em que o aparato de segurança do governo parecia dar sinais de estar enredado em espasmos de reorganização.
Previsto para nascer hoje, o Departamento da Segurança Interna ainda parece estar lutando para definir seu papel e seu objetivo.
Quando a captura de Sheikh Mohammed por autoridades paquistanesas, monitoradas por agentes da CIA e FBI, foi anunciada, autoridades dos serviços de inteligência se mostraram esperançosos de que ele pudesse dar informações mais valiosas sobre a Al Qaeda do que qualquer outro membro.
Segundo as autoridades, ele poderia descrever a organização, o financiamento e o planejamento dos ataques de 11 de setembro. Além disso, por ser o chefe de operações da Al Qaeda, ele poderia também explicar os planos de eventuais novos ataques e fornecer novas pistas sobre o paradeiro do próprio Bin Laden.
Ele também poderia dar informações mais detalhadas sobre a capacidade operacional da Al Qaeda. As autoridades afirmaram que, se a rede do terror foi largamente desarticulada pela guerra no Afeganistão, nunca ficou claro o quanto Bin Laden tem sido feliz em reconstruir sua capacidade de produzir ataques terroristas.
A prisão de Sheikh Mohammed parece fazer dele um provável candidato a um tribunal militar, embora ninguém no governo pareça seguro sobre quais procedimentos legais poderiam ser usados nesse caso.
Outros espiões da Al Qaeda que foram presos permaneceram sob custódia dos EUA em localidades além-mar e foram interrogados sob condições e padrões legais que nunca ficaram claros.



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