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IRAQUE OCUPADO
Atentados em Bagdá e Karbala deixaram mais de 440 feridos; luto oficial adia ratificação da Constituição
Ataques matam 170 em feriado xiita
DA REDAÇÃO
Uma série coordenada de ataques suicidas e atentados com
morteiros deixou ao menos 170
mortos e 440 feridos na manhã de
ontem no Iraque, marcando o dia
em que os xiitas celebravam o feriado religioso da Ashura como o
mais sangrento do pós-guerra. À
noite, o saldo de mortos ainda era
desencontrado, superando os 200
em alguns relatos.
O alvo foram as multidões de
fiéis que celebravam a data, em
Bagdá e Karbala, cidade sagrada
para essa corrente muçulmana e
onde havia ao menos 2 milhões de
xiitas de vários países.
A escolha da Ashura -que
marca a morte do imã Hussein,
neto de Muhammad, em uma batalha em Karbala e é um dos principais eventos do calendário xiita- para a execução dos atentados dá corpo ao temor de que terroristas islâmicos estejam buscando fomentar uma guerra civil.
Essa hipótese ecoou entre os
membros do Conselho de Governo Iraquiano, que relacionaram o
episódio a uma carta apreendida
em janeiro na qual um militante
islâmico, supostamente Abu Musab al Zarqawi, pedia a ajuda da Al
Qaeda (a rede terrorista responsável pelo 11 de Setembro) para detonar um confronto entre a maioria xiita, reprimida durante a ditadura sunita de Saddam Hussein
(1979-2003), e a minoria sunita. A
celebração da Ashura era proibida no regime deposto.
"A guerra civil que Zarqawi
quer infligir à população iraquiana não vai dar certo. Zarqawi fracassou, seu bando e seus planos
malignos fracassaram", disse Mowaffaq al Rubaie, um dos representantes xiitas no Conselho de
Governo Iraquiano.
O aiatolá Ali al Sistani, principal
líder xiita do país, emitiu um comunicado oficial pedindo união e
criticando os americanos por não
ter havido reforço de segurança
para as celebrações. Segundo informações do comando americano,
os ataques ocorreram quase ao
mesmo tempo em Bagdá e Karbala, por volta das 10h (hora local).
Na capital, 58 pessoas foram
mortas quando três terroristas
suicidas se explodiram perto da
mesquita de Kadhimiya. Um
quarto suicida teria sido detido.
Em Karbala, 110 km ao sul, explodiram um homem-bomba,
morteiros e bombas escondidas
em carroças e latas de lixo, deixando 112 mortos nas imediações
do mausoléu de Hussein. Entre as
vítimas, há 22 iranianos e várias
mulheres e crianças. Ao todo, ao
menos 440 pessoas foram feridas.
Abdel Aziz al Hakim, outro representante xiita no conselho,
afirmou que um atentado semelhante foi interceptado e evitado
na cidade sagrada de Najaf.
O administrador provisório do
Iraque, o diplomata americano
Paul Bremer, disse em nota que
"os terroristas querem violência
sectária porque esse é o único modo pelo qual poderiam deter a
marcha em direção à democracia
que tanto temem".
O comando militar americano
já havia advertido em novembro,
diante da aprovação do cronograma que fixou a devolução da soberania iraquiana em 30 de junho,
que os meses antecedendo a transição política seriam especialmente violentos na tentativa final
de impedi-la.
Fevereiro foi o mês mais violento do pós-guerra para os iraquianos - quase 300 foram
mortos em atentados.
Além disso, o mês marcou uma inversão de alvos que vinha se anunciando -iraquianos
que colaboram com a
ocupação passaram a
ser muito mais visados
do que as próprias forças ocupantes.
Os ataques às tropas
dos EUA recuaram
mais de 70% nos últimos três meses. Mesmo
assim, continuam a fazer vítimas. Ontem, um
soldado morreu quando foi atingido por uma
granada em Bagdá, elevando as
baixas americanas para 548.
O momento do atentado não só
é ligado à celebração xiita como
coincide com a aprovação da
Constituição interina que regerá o
país nos próximos meses, até que
a Carta definitiva seja promulgada, antes do fim de 2005.
O texto, concluído com atraso
devido à dificuldade em obter
consenso no segmentado conselho iraquiano, seria sancionado
hoje. Mas, com os ataques, sua assinatura fica adiada ao menos pelos três dias de luto oficial.
Os pontos da Carta interina divulgados extra-oficialmente até
agora deixaram entrever o que
analistas classificaram como uma
Constituição bastante liberal em
comparação com a de outros países islâmicos da região.
Entre outras coisas, o texto define o islã como religião oficial, mas
não o reconhece como base legal
do país, e fixa como meta uma
participação feminina de 25% na
Assembléia nacional.
Com agências internacionais
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