FÁBIO VICTOR
DE LONDRES

O jornal britânico "Daily Mail" informou ontem que a rainha Elizabeth 2ª deverá fazer, durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Londres, de terça a quinta da próxima semana, um pedido velado de desculpas ao governo brasileiro pela morte de Jean Charles de Menezes.
Segundo o colunista Richard Kay, especialista em assuntos da família real, a rainha está determinada a tocar indiretamente no assunto, provavelmente durante seu discurso na abertura do banquete de Estado, terça à noite, no palácio de Buckingham.
Ainda segundo o jornal, dificilmente o nome de Jean Charles, assassinado por engano pela polícia londrina em 22 de julho de 2005 ao ser confundido com um terrorista, será mencionado.
Em vez disso, ela aludiria ao caso ao fazer observações genéricas sobre os atentados terroristas de 7 de julho na cidade, que mataram 52 pessoas e feriram 700 e precederam a tragédia do brasileiro.
"Os autores do discurso querem que os comentários dela transmitam a idéia de que boas relações entre dois países podem ser forjadas como resultado de circunstâncias trágicas comuns", afirma uma fonte anônima de Buckingham citada pelo colunista.
Um ponto a ser definido seria a inclusão da palavra "inocente" no discurso.
A diplomacia brasileira confirmou ontem que o caso Jean Charles não estará na agenda da visita de Lula. Questionado sobre a possibilidade de o tema ser abordado no jantar no palácio, o embaixador do Brasil em Londres, José Maurício Bustani, disse que "o discurso em banquete de honra da rainha tem um certo padrão a ser seguido".
Não está previsto encontro de Lula com os parentes de Jean Charles que vivem em Londres, até porque, afirmou Bustani, não houvera pedido até ontem de manhã. "A família dele, os pais dele, estão no Brasil, podem encontrar o Lula a qualquer hora. Há uma percepção engraçada de que a família são os primos."

Primo descontente
Alex Pereira, primo de Jean e porta-voz da família, informou ter entregado ontem à tarde ao Consulado Geral do Brasil em Londres uma carta em que solicita uma conversa com Lula. E rebateu as declarações do embaixador. "Eles tentam neutralizar a gente e dizer que a família está no Brasil porque sabem que lá eles têm menos informações e menos força para lutar."
Embora o Brasil seja o país com o maior número de cidadãos barrados pela imigração no Reino Unido, Bustani disse não crer que a questão seja importante a ponto de ter destaque na visita.


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