|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Oposição boliviana rejeita mediação do Brasil
País, que vai enviar Amorim para discutir criação de "grupo de amigos", é acusado de ser pró-Morales
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ
A pedido do presidente da
Bolívia, Evo Morales, o chanceler Celso Amorim e representantes de Argentina e Colômbia
devem chegar nos próximos
dias a La Paz para tratar da criação de um grupo de países amigos voltado a facilitar o diálogo
com a oposição e encerrar a crise política de meses no país.
Um dos principais líderes do
departamento de Santa Cruz,
porém, já rejeitou o envolvimento brasileiro e argentino
por considerar os presidentes
Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Fernández de Kirchner
aliados de Morales.
A cerca de um mês de um referendo convocado por líderes
de Santa Cruz para aprovar o
"estatuto autonômico" do departamento mais rico do país,
Morales pediu a ajuda da OEA
(Organização dos Estados
Americanos) e dos três países
para facilitar o diálogo, num
formato que lembra o que ocorreu na Venezuela de Hugo Chávez, entre 2003 e 2004. Cuba e
Venezuela, aliadas de Morales,
ficaram de fora.
A iniciativa sofreu duras críticas de Branko Marinkovic,
presidente do Comitê Cívico
Pró-Santa Cruz, entidade que
reúne a elite econômica do departamento e tem grande capacidade de mobilização. "O Brasil e a Argentina são amigos do
MAS [Movimento ao Socialismo, partido de Morales], e não
da Bolívia", disse ele a uma TV
local, anteontem.
A resistência em aceitar a
participação brasileira se deve
principalmente ao rechaço
contra o assessor internacional
de Lula, Marco Aurélio Garcia.
Em artigo publicado em fevereiro, Garcia classificou de
"rentistas e parasitárias" as
classes dominantes de Venezuela, Peru, Equador e Bolívia,
enfurecendo a oposição a Morales. Houve um protesto diante da sede da Petrobras e até pichações com os dizeres "morte
a Garcia" na cidade.
"Os governos de Brasil, Argentina, Venezuela e outros
amigos estrangeiros do MAS
não vêm à Bolívia mediar. Vêm
porque estão convencidos de
que o melhor modo de defender seus interesses e suas multinacionais é apoiando o MAS.
Várias vezes esses estrangeiros
se pronunciaram, inclusive
com insultos, contra a autonomia e os autonomistas. Assim
fez Marco Aurélio Garcia, e assim fez Chávez", diz comunicado do comitê cívico.
Até ontem, uma viagem dos
representantes dos três países
a Santa Cruz era considerada
improvável, e o governo Morales buscava que eles se encontrassem ao menos com o presidente do Senado, o oposicionista Oscar Ortiz, eleito por Santa
Cruz pelo Podemos (direita).
A oposição planeja realizar
seu referendo em Santa Cruz
no 4 de maio, embora o governo
Morales considere a iniciativa
inconstitucional. Ontem, em
ato, o governador cruzenho,
Rubén Costas, prometeu que
no dia 5 de maio começará o governo autônomo, com prerrogativa de criar "decretos e leis".
A convocação da consulta é
uma resposta à Constituição
aprovada em 2007 sem a participação da oposição.
Texto Anterior: Locaute argentino é suspenso após 21 dias Próximo Texto: Reféns das Farc: Governo francês anuncia que já lançou missão por Ingrid Índice
|