São Paulo, quinta-feira, 03 de abril de 2008

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Oposição boliviana rejeita mediação do Brasil

País, que vai enviar Amorim para discutir criação de "grupo de amigos", é acusado de ser pró-Morales

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ

A pedido do presidente da Bolívia, Evo Morales, o chanceler Celso Amorim e representantes de Argentina e Colômbia devem chegar nos próximos dias a La Paz para tratar da criação de um grupo de países amigos voltado a facilitar o diálogo com a oposição e encerrar a crise política de meses no país.
Um dos principais líderes do departamento de Santa Cruz, porém, já rejeitou o envolvimento brasileiro e argentino por considerar os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Fernández de Kirchner aliados de Morales.
A cerca de um mês de um referendo convocado por líderes de Santa Cruz para aprovar o "estatuto autonômico" do departamento mais rico do país, Morales pediu a ajuda da OEA (Organização dos Estados Americanos) e dos três países para facilitar o diálogo, num formato que lembra o que ocorreu na Venezuela de Hugo Chávez, entre 2003 e 2004. Cuba e Venezuela, aliadas de Morales, ficaram de fora.
A iniciativa sofreu duras críticas de Branko Marinkovic, presidente do Comitê Cívico Pró-Santa Cruz, entidade que reúne a elite econômica do departamento e tem grande capacidade de mobilização. "O Brasil e a Argentina são amigos do MAS [Movimento ao Socialismo, partido de Morales], e não da Bolívia", disse ele a uma TV local, anteontem.
A resistência em aceitar a participação brasileira se deve principalmente ao rechaço contra o assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia.
Em artigo publicado em fevereiro, Garcia classificou de "rentistas e parasitárias" as classes dominantes de Venezuela, Peru, Equador e Bolívia, enfurecendo a oposição a Morales. Houve um protesto diante da sede da Petrobras e até pichações com os dizeres "morte a Garcia" na cidade.
"Os governos de Brasil, Argentina, Venezuela e outros amigos estrangeiros do MAS não vêm à Bolívia mediar. Vêm porque estão convencidos de que o melhor modo de defender seus interesses e suas multinacionais é apoiando o MAS. Várias vezes esses estrangeiros se pronunciaram, inclusive com insultos, contra a autonomia e os autonomistas. Assim fez Marco Aurélio Garcia, e assim fez Chávez", diz comunicado do comitê cívico.
Até ontem, uma viagem dos representantes dos três países a Santa Cruz era considerada improvável, e o governo Morales buscava que eles se encontrassem ao menos com o presidente do Senado, o oposicionista Oscar Ortiz, eleito por Santa Cruz pelo Podemos (direita).
A oposição planeja realizar seu referendo em Santa Cruz no 4 de maio, embora o governo Morales considere a iniciativa inconstitucional. Ontem, em ato, o governador cruzenho, Rubén Costas, prometeu que no dia 5 de maio começará o governo autônomo, com prerrogativa de criar "decretos e leis". A convocação da consulta é uma resposta à Constituição aprovada em 2007 sem a participação da oposição.


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