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ARTIGO
Aliança militar é família disfuncional
ADRIAN HAMILTON
DO "INDEPENDENT"
Se você achou a cúpula do
G20 cheia de divisões, é porque
ainda não viu a Otan. A organização, que neste ano celebra
seu 60º aniversário, não conseguiu ainda anunciar seu novo
secretário-geral porque a Turquia se opõe à escolha do premiê dinamarquês, Ander Fogh
Rasmussen, em razão das charges dinamarquesas que satirizaram o profeta Maomé.
Os EUA e o Reino Unido discordam da maior parte dos outros membros em relação ao nível de tropas a serem enviadas
ao Afeganistão, com algumas
acusações veladas e outras nem
tanto de covardia lançadas contra aqueles, como os alemães,
que estariam evitando se envolver nos combates reais.
Os membros antigos da Europa Ocidental e os membros
novos do Leste Europeu discordam em relação ao tratamento a ser dado à Rússia e ao
incentivo ou não ao ingresso da
Ucrânia. Mesmo a boa notícia
-o retorno da França ao comando militar da Otan- suscitou reações divididas.
Se a Otan fosse uma família,
diríamos que ficou disfuncional. Se fosse uma empresa, que
já é hora de desmontá-la.
Provavelmente a analogia
com a família é a mais apropriada para falar da cúpula de hoje,
em Estrasburgo. Apesar dos
antagonismos e ciúmes mútuos, os membros da Otan parecem realmente querer fazer
parte de uma unidade maior.
Com certeza serão encontradas
palavras para passar por cima
das diferenças, como no G20.
Aos participantes relutantes
na aventura afegã será pedido
que contribuam com assessores civis e dinheiro, em lugar de
tropas de combate. A discussão
sobre os novos membros será
adiada. Os antagonismos com a
Rússia serão postos de lado. A
Turquia será aplacada.
Mas é a analogia com uma
empresa em processo de falência a mais apropriada. A Otan é
um modelo cuja data de vencimento já passou. Ela foi fundada com um objetivo claro: conter e desafiar a URSS. Depois da
queda da União Soviética, perdeu essa missão.
Em lugar dela, seus parceiros
e sua burocracia inventaram
duas razões de ser, ambas as
quais se mostraram erradas.
Uma delas era incluir os países
recém-libertados da Europa
Oriental e redefinir seus objetivos para tornar-se promotora
da democracia, em lugar de
simples pacto de segurança para o Ocidente. A segunda era redesenhar suas fronteiras de
atuação: em vez de uma aliança
defensiva restrita à Europa, seria uma organização militar
ofensiva, capaz de operar fora
de seu teatro normal, como na
África e no Afeganistão.
As duas iniciativas foram válidas enquanto meios de evitar
a redundância e preservar empregos. Mas o que houve foi um
desastre de extrapolação de
atribuições.
Não existe futuro nessa estrada. A Otan vai ter de recuar e
começar de novo. Para alguns,
ela deveria simplesmente ser
abandonada para ir à falência,
como uma montadora falida.
Mas isso também destituiria a
Europa de uma aliança militar
de eficiência comprovada.
Uma Otan voltada à defesa
mútua e ao desarmamento teria um propósito real. O que
não vai funcionar, neste mundo
pós-Bush, é uma Otan voltada à
difusão de um evangelho político ou que se enxergue como polícia do mundo. A vida antiga
não pode mais continuar.
Tradução de CLARA ALLAIN
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