|
Próximo Texto | Índice
CRIMES DE GUERRA
Maurice Papon, 87, recebe pena de dez anos de prisão por ter participado da deportação de judeus
França condena ex-colaborador nazista
RODRIGO AMARAL
de Paris
O francês Maurice Papon, 87, foi
condenado ontem a dez anos de
prisão por "cumplicidade em crimes contra a humanidade" cometidos durante a Segunda Guerra
Mundial. A condenação marcou o
fim de um processo que durou
quase seis meses e cutucou velhas
feridas da sociedade francesa.
Papon foi um funcionário do governo de Vichy, instalado na França com o apoio das tropas nazistas
a partir de 1940. As acusações pelas quais foi condenado correspondem ao período em que foi secretário-geral do governo da Gironda, de 1942 a 44.
Nesse período, foram deportados 1.560 judeus de Bordeaux, a
capital do Departamento, para
campos de concentração onde a
maioria foi exterminada. Papon,
que era responsável pelos assuntos
relacionados aos judeus da região,
foi acusado de ter organizado as
deportações.
Mais de meio século depois, Bordeaux também foi a sede de seu
julgamento, que começou há quase seis meses (8 de outubro de 97)
e teve de ser interrompido diversas vezes, devido a problemas de
saúde do réu e, em março, devido
à morte de sua mulher, Paulette.
A última sessão, iniciada na
quarta-feira no tribunal de ações
criminais de Bordeaux, durou
mais de 19 horas -motivo pelo
qual o veredicto acabou sendo divulgado somente ontem.
Cerca de 200 pessoas acompanharam a sessão, muitas das quais
pernoitaram no tribunal.
Cumplicidade
A pena pode ser considerada intermediária. Papon foi condenado
por cumplicidade na prisão e no
sequestro dos judeus deportados
em quatro dos oito comboios que
saíram de Bordeaux de 1942 a
1944.
Os parentes das vítimas e a acusação queriam uma pena de 20
anos e que Papon também fosse
condenado por cumplicidade nos
assassinatos daqueles judeus.
Para a defesa, Papon, ao organizar as deportações, ignorava que o
destino dos judeus seria o que ficou historicamente conhecido como a "solução final", ou seja, a
eliminação sistemática promovida
pelo governo nazista.
Jean-Marc Varault, um dos advogados de defesa, afirmou que o
veredicto foi "bastardo". A defesa
divulgou que pode recorrer à Comissão Européia dos Direitos do
Homem.
Em liberdade
Apesar da condenação, Papon
não foi detido ontem e nem deve
sê-lo nos próximos dias. Talvez
nunca seja preso, por sua idade.
Logo no início do processo, o
ex-funcionário de Vichy, que havia sido preso dias antes, recebeu
o direito de permanecer em liberdade devido a sua idade e seu estado de saúde. Agora, o processo
criminal vai para a última instância da Justiça francesa -a Corte
de Cassação, que vai se pronunciar a respeito de procedimentos
que são contestados pela defesa.
Próximo Texto | Índice
|