São Paulo, quarta-feira, 03 de maio de 2000


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ATENTADO
Suspeitos líbios da ação terrorista que deixou 270 mortos, em 88, enfrentam processo a partir de hoje
Começa julgamento do caso Lockerbie

Reuters - 23.dez.88
Escoceses investigam atentado em Lockerbie



RICARDO GRINBAUM
de Londres


Foram precisos mais de dez anos de investigações, pressões políticas e negociações internacionais, mas finalmente começa hoje o maior julgamento de um ato terrorista da história.
Dois líbios acusados de matar 270 pessoas na explosão de um avião em Lockerbie (Escócia), em 1988, sentarão no banco dos réus num tribunal especialmente construído para o julgamento, em Camp Zeist, perto de Amsterdã (Holanda). Eles podem ser condenados à prisão perpétua.
A expectativa é que cerca de 450 parentes das vítimas do ato terrorista compareçam ao tribunal. Mais de mil testemunhas serão ouvidas, e a promotoria promete apresentar 2.500 peças como parte da acusação. Mas, mesmo com toda a parafernália armada para o julgamento, uma dúvida inquieta as famílias das pessoas mortas no vôo 103 da Pan Am.
Ainda que os líbios Abdel Basset al Megrahi, 48, e Lamen Khalifa Fhimah, 44, sejam condenados, até que ponto o julgamento atingirá os mandantes do atentado?
Segundo um porta-voz de familiares dos 189 norte-americanos que morreram na explosão, o risco é que as negociações para viabilizar o julgamento tenham deixado de fora os verdadeiros mentores do ato.
Al Megrahi e Fhimah sentarão no banco de réus atrás de uma placa de vidro a prova de balas. Pelos depoimentos que deram até agora, presume-se que devam se dizer inocentes no tribunal. Seu argumento é o de que eram simples funcionários da companhia aérea estatal líbia na época do atentado.
A promotoria vai alegar que os dois trabalhavam, na verdade, para o serviço secreto líbio e armaram todo o atentado em Malta. Como prova de acusação, a promotoria tem uma agenda onde Fhimah anotou a tarefa de buscar as etiquetas de bagagem para usar na mala onde foi colocada a bomba. Além disso, pouco depois do atentado foi interceptada uma mensagem de rádio em que os líbios diziam que a missão havia sido "bem-sucedida".
Ao serem investigados como suspeitos do atentado, Al Megrahi e Fhimah se refugiaram na Líbia, sob a proteção do presidente Muammar Gaddafi. Durante muitos anos, Gaddafi se recusou a entregá-los para tribunais na Escócia, onde ocorreu o atentado, e só aceitava julgá-los na Líbia. Eles só foram liberados para o julgamento depois de a Líbia sofrer sanções internacionais e de uma negociação direta entre o presidente Gaddafi e o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan.

Território neutro
Para realizar o julgamento, o governo do Reino Unido teve de acatar uma das exigências de Gaddafi. O presidente líbio não aceitava que o tribunal fosse instalado em território britânico. Por isso, uma antiga base militar foi adaptada, ao custo de R$ 36 milhões, para que o julgamento fosse realizado numa pequena cidade holandesa, a 40 quilômetros de Amsterdã. O processo deve levar ao menos seis meses.
Ontem, os parentes das vítimas começaram a chegar a Camp Zeist. Os britânicos diziam estar aliviados por ver os principais suspeitos do atentado serem levados ao banco dos réus, mas os norte-americanos eram os mais desconfiados em relação até onde se poderá avançar no julgamento.
"Eu acredito que o julgamento acontecerá, mas não creio que a Justiça será feita na medida em que as famílias desejam", disse Bert Ammerman, que perdeu o irmão Tommy no atentado. "Pelo menos, fizemos tudo o que poderíamos ter feito."
O avião da Pan Am levantou vôo em 21 de dezembro de 1998 do aeroporto de Heathrow, em Londres, com destino a Nova York. Quando sobrevoava a cidade de Lockerbie, o avião explodiu. Segundo ficou comprovado em investigações, a causa da explosão foi uma bomba de material plástico que estava acondicionada dentro de um aparelho de som, numa mala no bagageiro do avião.


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