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ATENTADO
Suspeitos líbios da ação terrorista que deixou 270 mortos, em 88, enfrentam processo a partir de hoje
Começa julgamento do caso Lockerbie
Reuters - 23.dez.88
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Escoceses investigam atentado em Lockerbie |
RICARDO GRINBAUM
de Londres
Foram precisos mais de dez
anos de investigações, pressões
políticas e negociações internacionais, mas finalmente começa
hoje o maior julgamento de um
ato terrorista da história.
Dois líbios acusados de matar
270 pessoas na explosão de um
avião em Lockerbie (Escócia), em
1988, sentarão no banco dos réus
num tribunal especialmente
construído para o julgamento, em
Camp Zeist, perto de Amsterdã
(Holanda). Eles podem ser condenados à prisão perpétua.
A expectativa é que cerca de 450
parentes das vítimas do ato terrorista compareçam ao tribunal.
Mais de mil testemunhas serão
ouvidas, e a promotoria promete
apresentar 2.500 peças como parte da acusação. Mas, mesmo com
toda a parafernália armada para o
julgamento, uma dúvida inquieta
as famílias das pessoas mortas no
vôo 103 da Pan Am.
Ainda que os líbios Abdel Basset
al Megrahi, 48, e Lamen Khalifa
Fhimah, 44, sejam condenados,
até que ponto o julgamento atingirá os mandantes do atentado?
Segundo um porta-voz de familiares dos 189 norte-americanos
que morreram na explosão, o risco é que as negociações para viabilizar o julgamento tenham deixado de fora os verdadeiros mentores do ato.
Al Megrahi e Fhimah sentarão
no banco de réus atrás de uma
placa de vidro a prova de balas.
Pelos depoimentos que deram até
agora, presume-se que devam se
dizer inocentes no tribunal. Seu
argumento é o de que eram simples funcionários da companhia
aérea estatal líbia na época do
atentado.
A promotoria vai alegar que os
dois trabalhavam, na verdade, para o serviço secreto líbio e armaram todo o atentado em Malta.
Como prova de acusação, a promotoria tem uma agenda onde
Fhimah anotou a tarefa de buscar
as etiquetas de bagagem para usar
na mala onde foi colocada a bomba. Além disso, pouco depois do
atentado foi interceptada uma
mensagem de rádio em que os líbios diziam que a missão havia sido "bem-sucedida".
Ao serem investigados como
suspeitos do atentado, Al Megrahi
e Fhimah se refugiaram na Líbia,
sob a proteção do presidente
Muammar Gaddafi. Durante
muitos anos, Gaddafi se recusou a
entregá-los para tribunais na Escócia, onde ocorreu o atentado, e
só aceitava julgá-los na Líbia. Eles
só foram liberados para o julgamento depois de a Líbia sofrer
sanções internacionais e de uma
negociação direta entre o presidente Gaddafi e o secretário-geral
das Nações Unidas, Kofi Annan.
Território neutro
Para realizar o julgamento, o
governo do Reino Unido teve de
acatar uma das exigências de
Gaddafi. O presidente líbio não
aceitava que o tribunal fosse instalado em território britânico. Por
isso, uma antiga base militar foi
adaptada, ao custo de R$ 36 milhões, para que o julgamento fosse realizado numa pequena cidade holandesa, a 40 quilômetros de
Amsterdã. O processo deve levar
ao menos seis meses.
Ontem, os parentes das vítimas
começaram a chegar a Camp
Zeist. Os britânicos diziam estar
aliviados por ver os principais
suspeitos do atentado serem levados ao banco dos réus, mas os
norte-americanos eram os mais
desconfiados em relação até onde
se poderá avançar no julgamento.
"Eu acredito que o julgamento
acontecerá, mas não creio que a
Justiça será feita na medida em
que as famílias desejam", disse
Bert Ammerman, que perdeu o
irmão Tommy no atentado. "Pelo
menos, fizemos tudo o que poderíamos ter feito."
O avião da Pan Am levantou
vôo em 21 de dezembro de 1998
do aeroporto de Heathrow, em
Londres, com destino a Nova
York. Quando sobrevoava a cidade de Lockerbie, o avião explodiu.
Segundo ficou comprovado em
investigações, a causa da explosão
foi uma bomba de material plástico que estava acondicionada dentro de um aparelho de som, numa
mala no bagageiro do avião.
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