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São Paulo, sábado, 03 de maio de 2003

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SAÚDE

Equipe de Hong Kong detecta persistência do vírus um mês depois do fim dos sintomas; em Taiwan, incidência da doença triplica

Vírus da Sars pode resistir após a "cura"

France Presse
Chineses deixam prédio após serem liberados de quarentena por suspeita de Sars em Hangzhou


DA REDAÇÃO

Depois da reincidência de Sars (síndrome respiratória aguda grave) em 12 pacientes, uma equipe médica de Hong Kong declarou ontem ter descoberto que o vírus causador da doença resiste por pelo menos um mês após desaparecerem os sintomas.
O caso é raro entre os coronavírus (família do vírus causador da Sars). Segundo disse à Folha o virologista Paolo Zanotto, da USP, o comportamento mais comum no caso de infecção pelos coronavírus é a expulsão do parasita, pelo organismo, após a remissão dos sintomas. Entretanto há casos em que "os coronavírus podem causar infecções persistentes no tecido nervoso em animais, como o vírus de hepatite de camundongo", disse.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), até ontem haviam sido registrados no mundo 6.054 casos, com 417 mortes na China, no Canadá, em Cingapura, no Vietnã, na Tailândia, na Malásia, nas Filipinas e em Taiwan.
A China continental -descontados os casos em Hong Kong- apresenta o maior número de casos (3.799) e mortes (181). Em Taiwan, que anunciou mais 11 casos ontem, a incidência triplicou nos últimos dez dias.
A organização também retirou EUA e o Reino Unido da lista de países afetados pela doença e anunciou que promoverá um seminário sobre a Sars entre os dias 17 e 18 de junho em Genebra (Suíça).

Persistência
A descoberta feita em Hong Kong é importante para avaliar a capacidade de transmissão de pacientes que deixaram de apresentar sintomas da doença e para estudar a reincidência. Além disso, põe em xeque o momento da "alta" de um paciente.
A equipe que fez o estudo recomendou que sejam evitados contatos como beijos e abraços com pacientes recuperados.
"O vírus ainda existe na urina e nas fezes dos pacientes. Ele persiste por pelo menos um mês [após o desaparecimento dos sintomas] ou até mais", afirmou o Joseph Sung, diretor do Departamento de Medicina da Universidade Chinesa de Hong Kong. "Não sabemos por quanto tempo ele pode sobreviver [no organismo]. O vírus pode sobreviver no ambiente por mais de um dia."
Sung, que monitorou o caso de 240 pacientes recuperados da Sars e afirmou que nenhum deles transmitiu o vírus a familiares ou amigos, classificou como "baixo" o risco de contágio por pacientes recuperados.
Ainda assim, ele sugeriu que estes usem máscaras, sem dizer por quanto tempo.
Segundo Sung, a hipótese mais provável é que a transmissão do vírus ocorra por meio de gotículas de saliva, e não pelo ar. "Isso depende de quão grande ou pequeno é o vírus. Se for muito pequeno, será transmitido pelo ar."

Mutação
Outra equipe de Hong Kong anunciou ontem ter constatado que o vírus sofre rápida mutação -em um espaço de poucas semanas-, o que tornaria ainda mais difícil a obtenção de uma vacina. Em duas semanas, o índice de mortalidade pela doença na ilha saltou de 5% para 10,6%.
"O vírus está sofrendo uma mutação muito rápida, o que significa que, mesmo que haja uma cura, ela logo vai se tornar ineficaz", afirmou Dennis Lo, um dos responsáveis pelo estudo.
Anteontem, uma equipe canadense que conseguiu decodificar o genoma do vírus disse, no entanto, que a constatação de eventuais mutações poderia ocorrer por erros no trabalho de sequenciamento genético, feito em tempo recorde.

Suspeitas no Brasil
Sem afastar a suspeita de Sars, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) informou ontem que um músico internado no Rio, que esteve no Canadá e apresentou sintomas da doença, provavelmente tem uma virose respiratória comum.
Já a Secretaria da Saúde do Estado de Minas Gerais rejeitou, com base em exames realizados pela Fiocruz, a ocorrência de Sars em W.L.K., 2, que esteve em Hong Kong.
Ontem, o menino continuava ontem internado em Belo Horizonte com uma virose respiratória, mas o isolamento imposto a ele e sua mãe seria suspenso.


Com Paulo Peixoto, da Agência Folha em Belo Horizonte, Talita Figueiredo, free-lance para a Folha no Rio, e agências internacionais


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