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São Paulo, sábado, 03 de maio de 2003

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TRAGÉDIA

Polícia atira para o alto para dispersar manifestação

Falta de assistência após tremor provoca revolta em cidade turca

DA REDAÇÃO

A polícia atirou ontem para o alto diante dos protestos de vítimas do terremoto da madrugada de anteontem em Bingol, na Turquia, enquanto as equipes de socorro tentavam resgatar cerca de 30 crianças soterradas nas ruínas do dormitório de uma escola.
Os trabalhadores começaram a usar equipamentos pesados para remover os destroços do prédio de quatro andares. "Por que você o está cortando em pedaços?", gritou Fethi Ketenalp, pai de um garoto de 14 anos desaparecido sob os escombros, que se jogou diante da escavadeira.
Cachorros adestrados e equipamentos de escuta não identificaram sinais de vida desde a manhã de ontem. Mais cedo, um menino de 13 anos foi resgatado: "No começo, todo mundo estava pedindo ajuda dos pais, mas, depois, eles foram parando um a um", contou Enes Gunce.
Muitos dos que perderam seus filhos culparam a baixa qualidade da construção pelo desabamento. O ministro da Habitação e dos Trabalhos Públicos, Zeki Ergesen, disse que irá investigar. "Assassinos", gritava Gazan Gunalan, cujo filho, Mehmet, 15, permanecia desaparecido. "Só sairei daqui depois de ver meu filho, ainda que seja apenas seu corpo", disse.
Até ontem, 32 estudantes ainda estavam desaparecidos; 117 haviam sido resgatados com vida e 49 morreram. As crianças tinham entre 7 e 16 anos. O número oficial de mortos subiu para 127. Cerca de mil pessoas ficaram feridas e milhares perderam suas casas.
A falta de alimentos, água e barracas provocou revolta entre os moradores de Bingol, a cidade de maioria curda mais atingida pelo terremoto de 6,4 graus na escala Richter que sacudiu o sudeste da Turquia. Eles atiraram pedras contra prédios públicos e pediram a renúncia do governador.
"Renuncie, renuncie", gritavam. Bingol é uma cidade pequena e pobre, de população majoritariamente curda, onde as lembranças de 15 anos de enfrentamentos entre rebeldes curdos e o Exército turco, assim como a repressão que se seguiu, são fortes.
Husnu Avni Cos, o governador local, acusou rebeldes curdos de se aproveitarem da tragédia para criar confusão. O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, demitiu o chefe da polícia.


Com agências internacionais


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