NICK MADIGAN
DO ""THE NEW YORK TIMES"

As autoridades de saúde norte-americanas confirmaram na quinta-feira um terceiro caso de contaminação com HIV entre atores que trabalham na indústria pornográfica.
Sharon Mitchell, diretora de uma clínica que está submetendo centenas de atores a exames de HIV, o vírus que provoca a Aids, disse que o caso mais recente de contaminação foi detectado em uma mulher de 26 anos, natural da República Tcheca, que, no dia 23 de março, trabalhou em um vídeo de conteúdo pornográfico com Darren James, o primeiro ator norte-americano que sabidamente foi contaminado no surto mais recente do vírus.
Mitchell, que informou a atriz tcheca de sua condição na própria quinta-feira, não a identificou, mas confirmou uma notícia divulgada no site Adult Video News (www.adultvideonews.com) de que seu nome artístico seria Jessica Dee. Quatro exames foram usados para confirmar a presença do vírus.
""Ela já recebeu aconselhamento médico", disse Mitchell, diretora da Fundação de Assistência Médica à Indústria Adulta. ""Ninguém fica feliz em contrair o HIV, mas ela está se adaptando bem aos cuidados recomendados e já iniciou a terapia anti-retroviral, ou seja, começou a tomar precocemente os medicamentos contra o HIV."
Há duas semanas, foi descoberto que outra atriz que trabalhou com Darren James, a canadense Lara Roxx, também é portadora do vírus HIV.
O surto, que envolve os primeiros casos conhecidos de HIV na indústria de vídeos pornográficos do vale de San Fernando desde 1999, obrigou a parar as filmagens durante 60 dias, enquanto os atores e atrizes são submetidos a exames repetidos para verificar a presença do vírus. Acredita-se que o HIV foi trazido por Darren James do Brasil, onde o ator trabalhou em um filme em março.
Mitchell disse na quinta-feira que entrou em contato com autoridades de saúde brasileiras para tentar rastrear o vírus na locação do filme em questão, em São Paulo. Ela disse acreditar que o vírus tenha sido transmitido a James por uma atriz jovem que teve relações sexuais com ele no filme. Mitchell se negou a fornecer o nome da atriz e disse que a identidade dela foi fornecida não por James, mas por ""uma fonte externa".
Mitchell disse que ainda não verificou se a atriz brasileira sabia ser portadora do vírus na época em que trabalhou com James.
Investigadores do Departamento de Saúde em Los Angeles obtiveram os nomes legais e as fichas médicas de cerca de 65 artistas da cidade que sabidamente tiveram contato sexual com James e Roxx, ou com alguma outra pessoa que manteve contato sexual com eles. Presume-se que agora a investigação será ampliada para incluir qualquer pessoa que tenha tido contato sexual com Jessica Dee.
Acredita-se que, depois de voltar do Brasil, James tenha trabalhado com 12 atrizes em Los Angeles. Ele foi submetido a exame de HIV imediatamente, mas o resultado foi negativo. Um exame posterior deu resultado positivo.
A indústria da pornografia americana, cuja base nacional fica no vale de San Fernando, produz cerca de 4.000 filmes e vídeos por ano à sombra de Hollywood e fatura entre US$ 5 bilhões e US$ 9 bilhões por ano, segundo economistas. O valor maior quase equivale ao que foi arrecadado no ano passado pelos filmes independentes e de grandes estúdios nos Estados Unidos e no Canadá.
A moratória sobre as filmagens deve durar pelo menos até 8 de junho. Cerca de 65 artistas foram postos em quarentena, o que significa que não poderão trabalhar até serem liberados. Muitos outros atores concordaram voluntariamente em submeter-se a mais exames do que o número comum de um por mês.
Cerca de 1.200 atores e atrizes da indústria pornográfica são submetidos a exames uma vez por mês para verificar a presença de HIV, clamídia, gonorréia e sífilis. A maioria dos exames é realizada nos consultórios da Fundação de Assistência Médica à Indústria Adulta, nos bairros de Sherman Oaks e Woodland Hills.
Os profissionais de saúde estimam que 40 mil pessoas se contaminam com o HIV a cada ano nos Estados Unidos.