São Paulo, quarta-feira, 03 de maio de 2006

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EUROPA

Críticos afirmam que medida pode alimentar xenofobia; primeiro-ministro reagiu sinalizando suavização do texto

França debate lei de imigração seletiva

DA REDAÇÃO

O governo da França apresentou ontem um projeto de lei sobre imigração que poderá fechar as portas para milhares de estrangeiros que tentam se estabelecer no país. Críticos apontaram que a medida representaria um golpe nos direitos humanos e, mais do que isso, uma jogada política visando as próximas eleições.
O responsável pelo encaminhamento do projeto - cuja discussão no Parlamento teve início ontem - foi o ministro do Interior Nicolas Sarkozy, que deve concorrer à Presidência em 2007.
"O debate que está começando vai ser decisivo para definir a face da França nos próximos 30 anos", disse o ministro em discurso no Parlamento - ele mesmo filho de um imigrante húngaro. Manifestantes se reuniram em frente ao edifício para protestar contra o teor do projeto.
Sarkozy sustenta que a nova política poderá ajudar o país a promover uma melhor integração dos estrangeiros e evitar crises nos subúrbios pobres, habitados em grande medida por imigrantes, como a que chacoalhou a França no ano passado.
"A verdade é que as 27 noites de protestos que enfrentamos entre outubro e novembro, são resultado direto da falência do nosso sistema de integração para imigrantes", disse Sarkozy. O ministro lembrou que países da Europa e os EUA já adotaram políticas mais duras contra a imigração.
Pelo projeto, a França passaria a ter uma espécie de sistema de cotas, no qual seriam dados vistos de residência de três anos para estrangeiros, sob critérios de "competência e talento", para aqueles cidadãos cujas habilidades "constituam bens para o desenvolvimento e a influência da França".
Segundo Sarkozy, o projeto também prevê espaços para que trabalhadores sem qualificações específicas possam entrar no país para atuar em áreas e setores com falta de mão-de-obra.
O projeto também torna mais difícil para imigrantes que vivem na França levar seus parentes para o país, além de forçar os novos moradores a ter lições sobre civismo e do idioma francês. O texto põe um fim às atuais renovações automáticas de residência a cada dez anos.
Críticos da esquerda dizem que o pacote anti-imigração estigmatizará os estrangeiros, provocará discriminação dos pobres e afetará a imagem da França como refúgio de perseguidos em regiões conflituosas do mundo.
Ontem, três sindicatos classificaram o projeto como uma "perigosa escalada", afirmando que ele alimentaria a xenofobia e a discriminação na França. Líderes cristãos e muçulmanos juntaram-se aos críticos.
Sarkozy diz que não se trata de racismo. E acusa os políticos de não estarem atentos à preocupação da opinião pública em ralação à imigração. O ministro citou uma pesquisa publicada em dezembro que mostrava que os franceses acreditavam que haviam imigrantes demais na França. Alguns críticos argumentam que Sarkozy, de olho nesses resultados, estaria procurando vitaminar sua potencial candidatura à Presidência.
Diante das reações, o primeiro-ministro Dominique de Villepin, sinalizou ontem que o governo poderia amenizar o projeto. Ele disse ter assegurado ao cardeal Jean-Pierre Richard e ao pastor Jean-Arnold de Clermont - líderes dos católicos e protestantes na França - que eles deveriam expressar suas preocupações em relação ao texto, para que enriqueçam seu teor.


Com agências internacionais


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