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EUROPA
Críticos afirmam que medida pode alimentar xenofobia; primeiro-ministro reagiu sinalizando suavização do texto
França debate lei de imigração seletiva
DA REDAÇÃO
O governo da França apresentou ontem um projeto de lei sobre
imigração que poderá fechar as
portas para milhares de estrangeiros que tentam se estabelecer no
país. Críticos apontaram que a
medida representaria um golpe
nos direitos humanos e, mais do
que isso, uma jogada política visando as próximas eleições.
O responsável pelo encaminhamento do projeto - cuja discussão no Parlamento teve início ontem - foi o ministro do Interior
Nicolas Sarkozy, que deve concorrer à Presidência em 2007.
"O debate que está começando
vai ser decisivo para definir a face
da França nos próximos 30 anos",
disse o ministro em discurso no
Parlamento - ele mesmo filho de
um imigrante húngaro. Manifestantes se reuniram em frente ao
edifício para protestar contra o
teor do projeto.
Sarkozy sustenta que a nova política poderá ajudar o país a promover uma melhor integração
dos estrangeiros e evitar crises
nos subúrbios pobres, habitados
em grande medida por imigrantes, como a que chacoalhou a
França no ano passado.
"A verdade é que as 27 noites de
protestos que enfrentamos entre
outubro e novembro, são resultado direto da falência do nosso sistema de integração para imigrantes", disse Sarkozy. O ministro
lembrou que países da Europa e
os EUA já adotaram políticas
mais duras contra a imigração.
Pelo projeto, a França passaria a
ter uma espécie de sistema de cotas, no qual seriam dados vistos
de residência de três anos para estrangeiros, sob critérios de "competência e talento", para aqueles
cidadãos cujas habilidades "constituam bens para o desenvolvimento e a influência da França".
Segundo Sarkozy, o projeto
também prevê espaços para que
trabalhadores sem qualificações
específicas possam entrar no país
para atuar em áreas e setores com
falta de mão-de-obra.
O projeto também torna mais
difícil para imigrantes que vivem
na França levar seus parentes para
o país, além de forçar os novos
moradores a ter lições sobre civismo e do idioma francês. O texto
põe um fim às atuais renovações
automáticas de residência a cada
dez anos.
Críticos da esquerda dizem que
o pacote anti-imigração estigmatizará os estrangeiros, provocará
discriminação dos pobres e afetará a imagem da França como refúgio de perseguidos em regiões
conflituosas do mundo.
Ontem, três sindicatos classificaram o projeto como uma "perigosa escalada", afirmando que ele
alimentaria a xenofobia e a discriminação na França. Líderes cristãos e muçulmanos juntaram-se
aos críticos.
Sarkozy diz que não se trata de
racismo. E acusa os políticos de
não estarem atentos à preocupação da opinião pública em ralação
à imigração. O ministro citou
uma pesquisa publicada em dezembro que mostrava que os
franceses acreditavam que haviam imigrantes demais na França. Alguns críticos argumentam
que Sarkozy, de olho nesses resultados, estaria procurando vitaminar sua potencial candidatura à
Presidência.
Diante das reações, o primeiro-ministro Dominique de Villepin,
sinalizou ontem que o governo
poderia amenizar o projeto. Ele
disse ter assegurado ao cardeal
Jean-Pierre Richard e ao pastor
Jean-Arnold de Clermont - líderes dos católicos e protestantes na
França - que eles deveriam expressar suas preocupações em relação ao texto, para que enriqueçam seu teor.
Com agências internacionais
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