São Paulo, segunda-feira, 03 de maio de 2010

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Divisões bloqueiam acordo amplo sobre TNP

Conferência de revisão do tratado começa hoje em meio a diferenças entre países com e sem a bomba

CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO

Apesar da ofensiva de pressão e relações públicas lançada por Barack Obama desde o seu discurso de Praga, em abril de 2009, divergências persistentes entre países armados e não armados, e entre as próprias potências atômicas, bloqueiam um acordo ambicioso na conferência de revisão do TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear), que começa hoje na sede da ONU, em Nova York.
Após o americano discursar sobre um mundo sem armas atômicas, num futuro indeterminado, EUA e Rússia renovaram o tratado Start, que reduzirá seus arsenais de longo alcance. Os EUA também lançaram uma nova estratégia nuclear, que limita as condições para a ativação da bomba.
A Casa Branca afirma que essas iniciativas devem levar os países não armados a concessões na outra ponta do TNP, a da não proliferação.
EUA, países europeus, Austrália e Nova Zelândia propõem que inspeções mais intrusivas, previstas no Protocolo Adicional da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), se tornem obrigatórias. Com a Rússia, querem apoio a bancos internacionais de combustível nuclear, visando evitar que mais países dominem tecnologia que os coloque no limiar da bomba, mesmo sem produzi-la.
O Brasil faz reparos às propostas, tidas como tentativas de barrar o desenvolvimento tecnológico dos países não armados. Assim, deverá unir-se ao grupo de 118 países do Movimento dos Não Alinhados, cujo interesse na barganha são medidas concretas para a implantação de uma zona livre de armas nucleares no Oriente Médio -o que minaria a superioridade bélica de Israel, aliado dos EUA e potência fora do TNP-, e poria fim à tensão provocada pelo programa nuclear do Irã.
Para a maioria dos países não armados, EUA e Rússia (com 95% dos arsenais nucleares) ainda estão distantes dos "13 passos", parâmetros mínimos de compromissos com o desarme. Obama, por exemplo, declarou que pressionará o Senado americano a ratificar o Tratado de Proibição de Testes Nucleares (CBTB, em inglês), mas há ceticismo sobre se conseguirá os votos necessários.
Outro acordo básico, o Tratado de Corte da Produção de Material Físsil (FMCT, em inglês), patina na Conferência de Desarmamento, órgão da ONU.
Embora o Paquistão -que não faz parte do TNP-seja apontado como o vilão das negociações, há resistência de outros países armados.
A China, segundo relatório recém-divulgado pelo Instituto Internacional de Pesquisas da Paz de Estocolmo, avalia que o FMCT não será efetivo se não prever também a redução dos atuais estoques de material para produção da bomba -medida à qual EUA e Rússia, com as maiores reservas, se opõem.
As potências reconhecidas pelo TNP -EUA, Rússia, China, França e Reino Unido-cultivam entre si desconfianças que tornam difícil prever se farão uma declaração conjunta na conferência de revisão.
China e Rússia rejeitam o projeto dos EUA de construção de novos mísseis antibalísticos, que reforçariam a ampla vantagem americana em defesa convencional. A China insiste em que Rússia e EUA retirem seus mísseis de posições de alerta e propõe um tratado contra a militarização do espaço.
Nada disso, porém, reduzirá pressões sobre Brasil, Argentina, África do Sul e outros países sem a bomba, mas que dominam tecnologias sensíveis.

Leia íntegra da entrevista com Celso Amorim
www.folha.com.br/101226


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