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Medellín passa da violência à "paz armada"
Na cidade que já foi bastião do narcotráfico e símbolo da violência na Colômbia, são os "paracos" que garantem a segurança
Homicídios caíram de 361 para 32,5 para cada 100 mil habitantes em dez anos; vitória paramilitar sobre guerrilha é parte do porquê
CAROLINA VILA-NOVA
ENVIADA ESPECIAL A MEDELLÍN
Antes conhecida como a capital mundial da violência, a cidade colombiana de Medellín
se transformou.
Um dado importante dá conta dessa mudança: em 1991, no
auge da era do narcoterrorismo
comandado por Pablo Escobar,
a taxa de homicídios dolosos
(com intenção) chegava a 361
para cada 100 mil habitantes.
Hoje, são 32,5 homicídios em
cada 100 mil - quase o dobro
da taxa da cidade de São Paulo,
(18,21), mas suficiente, por
exemplo, para levar a população a encher os bares e restaurantes à noite e permitir o trânsito relativamente seguro pela
maior parte da cidade.
"Veja só", diz um motorista
apontando para as patrulhas
militares à beira da estrada entre os municípios de Medellín e
Río Negro. "Antes não era possível transitar por aqui sem ser
parado pela guerrilha. Agora,
circulamos por toda parte."
O início do processo de desmobilização dos grupos paramilitares de extrema-direita
das AUC (Autodefesas Unidas
da Colômbia) é parte da explicação dessa transformação.
Em 2003, foram desmobilizados os poderosos blocos Cacique Nutibara e Heróis de
Granada, comandados pelo
narcoparamilitar "Don Berna",
atualmente preso, com o compromisso de cessar suas atividades ilícitas. Hoje, já são 4.098
os desmobilizados de diversos
blocos que fazem parte do Programa de Paz e Reinserção promovido pela Prefeitura.
Outra explicação foi o impulso dado pelo governo do presidente Álvaro Uribe à política de
"segurança democrática", levando forças públicas a áreas
em que antes eram ausentes.
Em 2002, duas operações
militares forçaram a expulsão
de milícias urbanas das Farc
(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e do ELN
(Exército de Libertação Nacional) de seu principal reduto, a
Comuna 13. Já nesse ano, a taxa
de homicídios baixou para 182.
Mas um fator crucial tem
pouco a ver com a ação do Estado. "Os grupos das autodefesas
ganharam a guerra que se desatou com as milícias que operavam na cidade de Medellín",
conta Jairo Herrán Vargas,
chefe da Personería de Medellín, um órgão de direitos humanos ligado à Prefeitura.
"Houve confrontos muito intensos que terminaram com as
AUC deslocando, eliminando
ou cooptando os milicianos, ou
seja, membros dessas milícias
passaram a fazer parte das autodefesas", acrescentou.
Hoje são elas, as máfias dos
paramilitares ligados ao narcotráfico -os "paracos", na gíria
local- que "garantem" a segurança na cidade, com um acordo tácito de não agressão.
A desmobilização, reconhecem as autoridades, não foi total: muitos grupos mantiveram
uma "reserva" de armas. Além
disso, o processo legitimou a
autoridade que os comandantes já tinham em seus bairros.
"Nosso máximo comandante
Adolfo Paz [Don Berna] deu a
ordem para diminuir a intensidade de conflito. Temos de ter
uma ação mais social, mais política que militar", disse Fabio
Acevedo, um dos comandantes
da Corporação Democracia, de
ex-paras.
Os grupos já não massacram
como antes, mas ainda mantêm
as intimidações, extorsões e
tentativas de cooptação. Os jornalistas são alvos comuns.
"Eles [paras] fazem comentários do tipo: "se eu não tivesse
me desmobilizado, te matava'",
contou um deles.
Herrán Vargas nega, porém,
que essa influência seja cabal.
"Não se pode dizer que Medellín esteja paramilitarizada. O
que existem são nichos de controle territorial que tradicionalmente esses grupos exerceram e que mantêm em alguns
bairros da cidade."
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