São Paulo, sábado, 03 de junho de 2006

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Sob o caos, Nobel da Paz assume Defesa em Timor Leste

Ramos Horta, que estava à frente da pasta das Relações Exteriores, pode abrir o diálogo com militares rebeldes

Conflito continua intenso na ex-colônia de Portugal; saques a instalações oficiais revelam inoperância das forças militares externas


DA REDAÇÃO

O presidente de Timor Leste, Xanana Gusmão, numa tentativa de tirar seu país da situação caótica em que mergulhou há três semanas, nomeou ontem para o Ministério da Defesa o atual ministro das Relações Exteriores, José Ramos Horta.
Gusmão e Horta são os dois homens públicos mais respeitados pelos timorenses. O presidente liderou a guerrilha que em 1999 tornou o país independente da Indonésia -até 1975, o país foi colônia portuguesa.
Horta dividiu em 1996 o Prêmio Nobel da Paz com o bispo Carlos Belo, por tentar negociar uma saída política para o conflito que envolvia a Indonésia e os nacionalistas.
A atual crise surgiu dentro do Exército, de 1.400 homens. Cerca de 600 deles se rebelaram em protesto contra critérios de promoção que acusavam de discriminatórios.
Na última terça-feira, o presidente Xanana Gusmão anunciou "medidas de emergência" e centralizou o comando da polícia e do Exército -cujas tropas leais ao governo permanecem aquarteladas, para não entrarem em conflito com os rebeldes, refugiados em torno de Dili, a capital do país.
Anteontem, os ministros da Defesa e do Interior, Roque Rodriguez e Rogério Lobato, pediram demissão. Ao entregar o controle do Exército a Ramos Horta, o presidente põe no centro da crise um personagem com capacidade de diálogo com os rebeldes e ainda enfraquece o primeiro-ministro Mari Alkatiri, inábil na condução da crise.

Saques e violência
Apesar da presença de forças militares estrangeiras nas ruas -2.600 homens, sobretudo australianos-, grupos de jovens mascarados continuaram ontem a saquear e a lutar entre si com armas brancas.
Cerca de mil timorenses saquearam ontem instalações do governo, levando computadores, móveis e utensílios. Eles se revoltaram ao saber que estava vazio um armazém diante do qual aguardavam alimentos.
Em Genebra, o Alto Comissariado da ONU para Refugiados anunciou o envio de especialistas e material para alojar cerca de 100 mil pessoas que deixaram suas casas em razão da crise. Parte delas está em igrejas e jardins públicos. Há 30 acampamentos improvisados dentro de Dili. Esses timorenses temem voltar para suas casas e serem mortos. Pelo menos 30 já morreram desde o início da revolta.
O primeiro-ministro Alkatiri acusou, em entrevista à TV indonésia, "adversários" de insuflarem a crise para derrubarem seu gabinete.
O comandante das forças australianas, Mick Slater, disse ter indícios de que a agitação é "orquestrada por pessoas dos bastidores". Nenhum dos dois designou nominalmente quem estavam acusando.


Com agências internacionais

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