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Sob o caos, Nobel da Paz assume Defesa em Timor Leste
Ramos Horta, que estava à frente da pasta das Relações Exteriores, pode abrir o diálogo com militares rebeldes
Conflito continua intenso
na ex-colônia de Portugal;
saques a instalações oficiais revelam inoperância das forças militares externas
DA REDAÇÃO
O presidente de Timor Leste,
Xanana Gusmão, numa tentativa de tirar seu país da situação
caótica em que mergulhou há
três semanas, nomeou ontem
para o Ministério da Defesa o
atual ministro das Relações Exteriores, José Ramos Horta.
Gusmão e Horta são os dois
homens públicos mais respeitados pelos timorenses. O presidente liderou a guerrilha que
em 1999 tornou o país independente da Indonésia -até 1975,
o país foi colônia portuguesa.
Horta dividiu em 1996 o Prêmio Nobel da Paz com o bispo
Carlos Belo, por tentar negociar uma saída política para o
conflito que envolvia a Indonésia e os nacionalistas.
A atual crise surgiu dentro do
Exército, de 1.400 homens.
Cerca de 600 deles se rebelaram em protesto contra critérios de promoção que acusavam de discriminatórios.
Na última terça-feira, o presidente Xanana Gusmão anunciou "medidas de emergência"
e centralizou o comando da polícia e do Exército -cujas tropas leais ao governo permanecem aquarteladas, para não entrarem em conflito com os rebeldes, refugiados em torno de
Dili, a capital do país.
Anteontem, os ministros da
Defesa e do Interior, Roque Rodriguez e Rogério Lobato, pediram demissão. Ao entregar o
controle do Exército a Ramos
Horta, o presidente põe no centro da crise um personagem
com capacidade de diálogo com
os rebeldes e ainda enfraquece
o primeiro-ministro Mari Alkatiri, inábil na condução da crise.
Saques e violência
Apesar da presença de forças
militares estrangeiras nas ruas
-2.600 homens, sobretudo
australianos-, grupos de jovens mascarados continuaram
ontem a saquear e a lutar entre
si com armas brancas.
Cerca de mil timorenses saquearam ontem instalações do
governo, levando computadores, móveis e utensílios. Eles se
revoltaram ao saber que estava
vazio um armazém diante do
qual aguardavam alimentos.
Em Genebra, o Alto Comissariado da ONU para Refugiados anunciou o envio de especialistas e material para alojar
cerca de 100 mil pessoas que
deixaram suas casas em razão
da crise. Parte delas está em
igrejas e jardins públicos. Há 30
acampamentos improvisados
dentro de Dili. Esses timorenses temem voltar para suas casas e serem mortos. Pelo menos
30 já morreram desde o início
da revolta.
O primeiro-ministro Alkatiri
acusou, em entrevista à TV indonésia, "adversários" de insuflarem a crise para derrubarem
seu gabinete.
O comandante das forças
australianas, Mick Slater, disse
ter indícios de que a agitação é
"orquestrada por pessoas dos
bastidores". Nenhum dos dois
designou nominalmente quem
estavam acusando.
Com agências internacionais
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