São Paulo, quarta-feira, 03 de julho de 2002

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EPIDEMIA

Estudo da ONU pede novos esforços para combater a doença, que matou ao menos 3 milhões de pessoas em 2001

Aids pode matar 70 milhões em 20 anos

DA REDAÇÃO

A Aids vai matar cerca de 70 milhões de pessoas nos próximos 20 anos se o mundo não intensificar seus esforços para combater a doença, disse ontem a ONU (Organização das Nações Unidas).
Mais de 40 milhões de pessoas estão infectadas com o vírus HIV. Dois anos atrás, o número era de 34 milhões de pessoas, e as infecções estão aumentando, de acordo com o relatório da Unaids, o órgão das Nações Unidas para o combate à Aids.
"Ainda não atingimos o pico da epidemia de Aids", disse Peter Piot, diretor-executivo da Unaids. "É uma epidemia sem precedentes na história humana", afirmou.
A Aids ameaça dizimar uma geração inteira na África, diz o relatório da Unaids (leia texto nesta página), divulgado antes da 14ª Conferência Internacional sobre a Aids, que será inaugurada em Barcelona na semana que vem.
"De um problema puramente médico, a Aids se tornou um tema relacionado ao desenvolvimento econômico e social e até à segurança", disse Piot.
O relatório da Unaids atualiza um estudo feito dois anos atrás. A Aids matou ao menos 3 milhões de pessoas no ano passado -2,2 milhões apenas na África.
Desde que foram diagnosticados os primeiros casos de problemas incomuns no sistema imunológico (depois atribuídos ao vírus HIV) em 1981, a Aids já matou mais de 20 milhões (e deixou ao menos 14 milhões de órfãos).
Das 40 milhões de pessoas infectadas, 3 milhões têm menos de 15 anos.
Em países desenvolvidos, por causa das campanhas de conscientização nos anos 80 e da evolução no tratamento, o número de mortes se reduziu substancialmente. O tratamento ainda é relativamente caro, mas há diversos medicamentos que atingem o HIV em diferentes fases de sua evolução.
Terapias que usam diversos medicamentos ao mesmo tempo resultaram na diminuição do número de mortes principalmente na Europa e nos EUA. Em muitas pessoas, os medicamentos reduziram a presença do vírus a níveis indetectáveis. Os medicamentos têm efeitos colaterais, porém, e não provocam o mesmo efeito em todas as pessoas.
Na África subsaariana, a situação piorou consideravelmente. A Aids também está se espalhando rapidamente na Ásia e na Europa oriental, onde o número de pessoas infectadas quase dobrou.
E as perspectivas são sombrias. Outro relatório divulgado ontem pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) mostra que a maioria dos jovens não tem a menor idéia sobre como o HIV é transmitido ou sobre como se proteger contra a doença.

Apoio financeiro
O relatório pede dinheiro a países ricos para combater a epidemia. O mundo precisa gastar entre US$ 7 bilhões e US$ 10 bilhões por ano para combater a Aids, de acordo com objetivos definidos no ano passado, em Nova York, por uma sessão especial da Assembléia Geral da ONU sobre "HIV/Aids - Crise Global, Ação Global".
"Não se trata de pedir a lua", disse Piot. O financiamento de campanhas de combate à Aids é liderado pelo Fundo Global de Combate à Aids, à Tuberculose e à Malária, inspirado pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e lançado em janeiro com a ajuda das Nações Unidas, do Banco Mundial e de outras instituições.
Os gastos com o combate à Aids em países pobres deve chegar a US$ 3 bilhões neste ano, bem acima dos US$ 165 milhões gastos em 1998, mas abaixo dos objetivos da ONU, segundo o relatório.
Os EUA anunciaram em junho verba de US$ 500 milhões para combater a transmissão do HIV de mães africanas a seus filhos.
"A comunidade internacional não contribuiu com o que poderia ter contribuído", afirmou Piot. "Ela considerou isso [a Aids" um problema marginal."
Países ricos devem fazer mais para levar os medicamentos às vítimas da Aids na África, disse Piot. "Ainda é um enorme escândalo [a situação no continente"", afirmou o médico, indicando que apenas 4% das pessoas infectadas em países em desenvolvimento têm acesso aos medicamentos mais recentes. Nos EUA, o número é de cerca de metade.


Com agências internacionais


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