São Paulo, quarta-feira, 03 de julho de 2002

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África subsaariana tem 70% dos casos

PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO

A Aids é a maior ameaça ao desenvolvimento da África subsaariana, de acordo com as Nações Unidas e com analistas. Pessoas que ocupam cargos-chave para o desenvolvimento do continente estão morrendo, incluindo professores, funcionários da área da saúde, agricultores e outros jovens profissionais.
"As guerras civis e a queda na assistência financeira à África sem dúvida prejudicam o progresso do continente, mas o pior obstáculo ao desenvolvimento da África subsaariana é a disseminação fora de controle do vírus HIV e a falta de acesso ao tratamento", afirma Robert Bates, especialista em política africana na Universidade Harvard (EUA).
Como alerta o relatório da Unaids, a doença ameaça dizimar toda uma geração na África subsaariana e desestabilizar a região.
Uma pesquisa realizada por 15 empresas na Etiópia revelou que, em um período de cinco anos, 53% das doenças dos funcionários estavam relacionadas à Aids.
Há pelo menos 28,5 milhões de pessoas com HIV na África subsaariana atualmente -mais de 70% dos casos contabilizados no mundo. Apenas no ano passado, houve 3,5 milhões de novos casos de infecção e 2,2 milhões de mortes. A expectativa de vida média hoje é de 47 anos. Sem a Aids, seria de 62 anos. Em 1999, 860 mil crianças africanas perderam seu professor para a Aids.
Os dez países com maior número de infectados entre 15 e 49 anos ficam na África subsaariana, segundo o relatório divulgado ontem pela Unaids. A média na região aumentou de 8,6%, no final de 1999, para 9%. A epidemia é transmitida sobretudo por relações sexuais sem preservativo entre heterossexuais.
Em Botsuana, 38,8% das pessoas com entre 15 e 49 anos estão infectadas com HIV, um aumento de 2,8 pontos percentuais em relação a 1999. No país, 44% das grávidas estão infectadas. Por causa da Aids, a expectativa de vida em Botsuana está abaixo dos 40 anos pela primeira vez desde 1950.
Em Maláui, Moçambique e Suazilândia, as pessoas também morrem, em média, antes de completar 40 anos. Sem a Aids, viveriam pelo menos até 60 anos.

Esperança
Uma exceção no quadro sombrio é a experiência de Uganda, país que, por meio de uma ampla campanha de conscientização, conseguir reduzir o número de grávidas infectadas com o vírus HIV em áreas urbanas por vários anos consecutivos. De 29,5%, em 1995, a porcentagem de infectadas caiu para 11,25% em 2000. E a Zâmbia deve seguir o mesmo caminho, graças à ênfase na educação, segundo especialistas.
Já na Somália, o Unicef diz que mais de 70% das adolescentes nunca ouviram falar da doença.
O acesso ao tratamento ainda é bastante desigual em diferentes regiões do mundo.
"Ao menos 500 mil pessoas receberam tratamento no Ocidente no ano passado, e pouco mais de 25 mil pessoas morreram de Aids na região. Na África, 30 mil estão recebendo tratamento e 2,2 milhões de pessoas morreram. Absolutamente, é um tipo inaceitável de diferença", afirmou Peter Piot, diretor-executivo de Unaids.
A conferência internacional que será realizada em Barcelona na semana que vem deve lidar com a questão de forma urgente para que mude a situação na África subsaariana, onde apenas 0,1% dos infectados têm acesso a medicamentos contra a Aids.



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