São Paulo, quarta-feira, 03 de julho de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Cabul exige que americanos tomem medidas para evitar novas vítimas civis em ações equivocadas

Governo afegão condena ataque dos EUA

DA REDAÇÃO

Adotando um tom crítico inédito, o governo do Afeganistão exigiu ontem que os Estados Unidos tomem todas as medidas necessárias para evitar que civis novamente sejam vítimas de ataques americanos como o de anteontem, quando cerca de 40 pessoas foram mortas em ação americana durante casamento em vila afegã a 280 km de Cabul.
O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, comunicou a autoridades dos EUA a sua preocupação com o ataque de anteontem. "Todas as medidas necessárias devem ser tomadas para garantir que as ações militares para capturar e combater integrantes de grupos terroristas não deixem vítimas civis", disse comunicado do presidente divulgado ontem.
O chanceler afegão, Abdullah Abdullah, disse que as ações contra a rede terrorista Al Qaeda e a milícia extremista Taleban devem continuar, porém as regras para o lançamento de ataques americanos "precisam ser revistas".
O ataque americano atingiu uma cerimônia de casamento e teria ocorrido após forças americanas terem sido alvejadas. Como no casamento os participantes dispararam para o ar para celebrar, o que é comum na região, pode ter havido uma confusão. Os EUA não sabem informar ainda se os disparos contra as suas forças teriam sido feitos no casamento ou por tropas inimigas.
No início, o governo americano chegou a afirmar que uma bomba errante teria atingido involuntariamente o casamento. Ontem, porém, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, disse que investigações preliminares indicam que disparos de um avião AC-130 causaram as mortes. Ele acrescentou ainda que demorará alguns dias para ter uma conclusão. A ação, disse, visava membros da Al Qaeda e do Taleban.
"Essa situação precisa ter um fim. Equívocos podem ocorrer, mas nossa população precisa estar segura de que todas as medidas foram tomadas para evitar esse tipo de incidente", disse o chanceler afegão. "Não há explicação para que os habitantes de um país, que sofreram tanto com a presença da Al Qaeda e do Taleban, agora serem vítimas de uma campanha contra a Al Qaeda", acrescentou Abdullah.
Além do episódio de anteontem, já aconteceram outros incidentes que causaram morte de inocentes na campanha americana. Anteontem, porém, foi a primeira vez que um duro comunicado foi emitido pelas autoridades afegãs. A atitude do governo afegão demonstra, segundo analistas, as pressões que o governo de Karzai vem sofrendo de líderes tribais pashtus, etnia majoritária no país. Ele estariam se opondo à presença prolongada das forças americanas no país.para eles, ela prejudicaria o estabelecimento da paz após 23 anos de sucessivas guerras.

Bin Laden
Abdullah disse ontem que acha que o terrorista saudita Osama bin Laden e o líder do Taleban mulá Omar estão vivos. "Mas não temos provas", afirmou.


Com agências internacionais


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