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ESTUDO
Metade das mulheres árabes não são alfabetizadas
Falta de liberdade imobiliza países árabes, afirma relatório da ONU
DO "THE NEW YORK TIMES"
Um relatório encomendado pela ONU e redigido por intelectuais
árabes avisa que as sociedades árabes estão sendo imobilizadas
por causa da ausência de liberdade política, da opressão sobre as
mulheres e do isolamento do mundo das idéias, todos fatores
que sufocam a criatividade.
Intitulado Relatório de Desenvolvimento Humano Árabe 2002,
o documento foi divulgado ontem no Cairo. Ele nota que, embora a renda com o petróleo tenha
modificado as paisagens de alguns países árabes, a região permanece ""mais rica do que é desenvolvida". Nos últimos 20 anos,
a renda per capita caiu para um
nível pouco superior ao da África
subsaariana. A produtividade está em queda. O setor de pesquisas
e desenvolvimento é fraco ou inexistente. A ciência e a tecnologia
estão dormentes.
Os intelectuais fogem do ambiente político e social estagnado,
quando não repressivo, diz o relatório. As mulheres árabes teriam
seu progresso negado em quase
todos os países. Metade delas ainda não sabe ler ou escrever. O índice de mortalidade materna é
duas vezes maior que o latino-americano e quatro vezes superior ao da Ásia oriental. ""Infelizmente, a maior parte do mundo
árabe se priva da criatividade e
produtividade de metade de seus
cidadãos", concluiu o relatório.
O planejamento para o relatório
começou há mais de um ano,
""quando sentimos que existe um
problema sério de desenvolvimento nos países árabes", disse
Rima Khalaf Hunaidi, diretora do
departamento árabe do Programa de Desenvolvimento da ONU.
""Havia sinais muito assustadores
que eram específicos dos árabes."
Primeiro relatório do Programa
de Desenvolvimento da ONU dedicado a uma única região, ele foi
redigido por intelectuais árabes
que não atribuem a outros a culpa
pelo que vêem como sendo ""déficits" da cultura árabe contemporânea, disse Khalaf Hunaidi, ex-vice-premiê da Jordânia. Ela disse
que pediu aos autores que estudassem a pergunta: ""Por que a
cultura e os países árabes estão ficando para trás?". Há 280 milhões
de pessoas nos 22 países árabes
cobertos pelo relatório, co-patrocinado pela Liga Árabe. A previsão é de que o número de árabes
atinja entre 410 milhões e 459 milhões até o ano 2020.
O relatório não tece críticas diretas à militância islâmica extremista e aos efeitos dela sobre o
crescimento intelectual e econômico, mas Khalaf Hunaidi disse
que essa crítica está implícita nos
trechos que fazem referência ao
ambiente social menos tolerante.
O uso da internet é pequeno nos
países árabes. O cinema parece
estar encolhendo. Os autores do
relatório falam de uma ""escassez
acentuada" de novos textos e de
obras estrangeiras traduzidas. ""Só
cerca de 330 livros do mundo externo são traduzidos anualmente
em todo o mundo árabe -um
quinto do número traduzido na
Grécia", diz o relatório.
Fouad Ajami, diretor de Estudos do Oriente Médio na Universidade Johns Hopkins, disse, em
entrevista, que existe uma percepção generalizada de que a vida no
mundo árabe é reprimida, tanto
pelo Estado quanto pelos guardiães da moral religiosa. ""Os árabes se sentem vigiados", disse ele,
atribuindo a ausência cada vez
maior de liberdade intelectual ao
crescente poder de uma classe
média baixa cujos integrantes são
alfabetizados, mas pouco instruídos. Este grupo, diz ele, ""manifesta sua falta de tolerância com qualquer pessoa ou setor de espírito livre, qualquer dissidência, qualquer diferença". Para Ajami, a única opção que restou para
muitos intelectuais foi o exílio.
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