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RETRATAÇÃO
Rede de TV tinha acusado os EUA de usarem gás sarin durante a Guerra do Vietnã para matar desertores
CNN admite erro em reportagem
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington
A rede de TV a cabo CNN admitiu que estava errada a reportagem
que veiculou com acusações de
que as Forças Armadas dos EUA
haviam usado gás sarin durante a
Guerra do Vietnã para matar desertores norte-americanos.
A reportagem foi veiculada pela
CNN, no dia 7 de junho, na estréia
do programa "NewsStand" (banca de jornais), projeto conjunto
entre a emissora e a revista "Time". Os dois veículos pertencem
ao conglomerado Time Warner.
Versão menor e com abordagem
menos taxativa do que a usada na
TV saiu na edição da "Time" no
dia seguinte. Diversos jornais do
mundo, inclusive a Folha, reproduziram as informações conforme
a versão veiculada pela CNN.
Segundo a emissora, as Forças
Armadas dos EUA usaram gás sarin em ataque a uma vila no Laos,
em 1970, como parte de missão secreta com o objetivo de matar desertores norte-americanos.
O consultor militar da CNN, general da reserva Perry Smith, disse
que a reportagem era falsa e renunciou em protesto. Centenas de
veteranos da Guerra do Vietnã
também a desmentiram.
No dia 22 de junho, a "Time"
anunciou que iria rever por conta
própria o processo pelo qual os
jornalistas da CNN haviam obtido
suas informações. Três dias depois, a CNN contratou o respeitado advogado Floyd Abrams para
fazer investigação independente.
Abrams anunciou os resultados
de seu trabalho ontem. Ele concluiu que as provas disponíveis
para sustentar a acusação eram
"insuficientes" e que, ao contrário, havia muita evidência e testemunhos de que ela podia ser falsa.
A reportagem foi feita por uma
das principais estrelas da CNN, o
australiano Peter Arnett, de 63
anos, 45 de profissão. Arnett cobriu a Guerra do Vietnã para a
agência "Associated Press" entre
1962 e 1975 e ganhou o prêmio Pulitzer, o mais prestigioso do jornalismo dos EUA, em 1966. Especializou-se como correspondente de
guerra. Já pela CNN, foi o único
jornalista ocidental a cobrir a
Guerra do Golfo de Bagdá.
Tom Johnson, presidente da
CNN, divulgou pedido de desculpas ao público e aos envolvidos no
episódio. "O sistema de verificação de informações, que serviu à
CNN excepcionalmente no passado, falhou neste caso. Reconhecemos que sérios erros foram cometidos devido ao uso das fontes que
nos forneceram os primeiros relatos sobre o incidente no Laos."
A CNN, fundada em 1980 pelo
empresário Ted Turner, foi a primeira emissora de TV a veicular
programas jornalísticos 24 horas
por dia. Ela está disponível em 71
milhões de domicílios nos EUA.
Mas sua audiência média diária no
país é de cerca de 300 mil pessoas.
Em 1996, todo o grupo Turner,
inclusive a CNN, foi absorvido pela Time Warner, que pagou por ele
US$ 7,3 bilhões e se tornou o segundo maior conglomerado da
área de comunicação no mundo
(só abaixo da Walt Disney-ABC).
Embora não tenham sido anunciadas punições funcionais, uma
das produtoras do programa
"NewsStand", Pamela Hill, renunciou a seu cargo.
O relatório de Abrams afirma
que a reportagem de Arnett não
contém mentiras, mas deixou de
levar em consideração material
disponível que contrariava os relatos de uso do gás sarin contra desertores.
A revista "Time", líder de vendas entre as semanais de informação nos EUA (4,1 milhões de cópias por semana, em média), também divulgou pedido de desculpas
ao público pela reportagem. Fundada há 75 anos por Henry Luce e
Briton Hadden, ela é um dos títulos mais famosos do jornalismo
mundial.
"Os fatos simplesmente não
sustentam a versão publicada (sobre o uso de gás sarin no Laos)",
disse o editor-chefe da revista,
Walter Isaacson, em seu comunicado público sobre o caso.
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