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COMENTÁRIO
Fim do comunismo faz EUA reverem passado
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
Parece um paradoxo: no mesmo
momento em que liberam documentos provando que sabiam de
tudo o que acontecia no Chile, antes, durante e depois do golpe militar de 1973, os EUA dão os primeiros passos para tentar julgar o chefe do golpe, general Augusto Pinochet, por um dos crimes dele decorrentes (o assassinato de Orlando Letelier).
Por que tardar um quarto de século em reagir? Simples: porque
governos como o de Pinochet
eram vistos, nos EUA, como o melhor, quando não único, anteparo
contra a suposta propagação do
comunismo.
Morto, o comunismo não tem
como propagar-se, e Washington
pode admitir pecados do passado,
em termos de desrespeito aos direitos humanos.
É sintomático que o presidente
Bill Clinton, antes do caso Letelier,
já tivesse pedido publicamente
desculpas ao público da Guatemala pela intervenção norte-americana no país e pela sustentação de
um regime autoritário.
Antes, o silêncio e a omissão
eram parte da política externa norte-americana para a América Latina. Qualquer admissão, como a
que Clinton fez na Guatemala,
equivaleria a dar armas para a propaganda da esquerda, em geral a
grande vítima de regimes repressivos instaurados com apoio, financiamento e/ou omissão dos EUA.
Agora, é tarde demais para usar
tal arma propagandística. A esquerda comunista deixou de ser alternativa de poder seja pela via revolucionária, seja pela via eleitoral,
embora sobrevivam partidos autenticamente esquerdistas (como
o PT brasileiro) com viabilidade
eleitoral.
Mesmo tais partidos não usam a
crítica às ditaduras como principal
instrumento de propaganda, porque elas caíram de moda.
A crítica, agora, é às políticas
econômicas, também inspiradas
pelos EUA, mas, aí, já é outro capítulo histórico, ainda em aberto.
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