São Paulo, Sábado, 03 de Julho de 1999
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COMENTÁRIO
Fim do comunismo faz EUA reverem passado

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

Parece um paradoxo: no mesmo momento em que liberam documentos provando que sabiam de tudo o que acontecia no Chile, antes, durante e depois do golpe militar de 1973, os EUA dão os primeiros passos para tentar julgar o chefe do golpe, general Augusto Pinochet, por um dos crimes dele decorrentes (o assassinato de Orlando Letelier).
Por que tardar um quarto de século em reagir? Simples: porque governos como o de Pinochet eram vistos, nos EUA, como o melhor, quando não único, anteparo contra a suposta propagação do comunismo.
Morto, o comunismo não tem como propagar-se, e Washington pode admitir pecados do passado, em termos de desrespeito aos direitos humanos.
É sintomático que o presidente Bill Clinton, antes do caso Letelier, já tivesse pedido publicamente desculpas ao público da Guatemala pela intervenção norte-americana no país e pela sustentação de um regime autoritário.
Antes, o silêncio e a omissão eram parte da política externa norte-americana para a América Latina. Qualquer admissão, como a que Clinton fez na Guatemala, equivaleria a dar armas para a propaganda da esquerda, em geral a grande vítima de regimes repressivos instaurados com apoio, financiamento e/ou omissão dos EUA.
Agora, é tarde demais para usar tal arma propagandística. A esquerda comunista deixou de ser alternativa de poder seja pela via revolucionária, seja pela via eleitoral, embora sobrevivam partidos autenticamente esquerdistas (como o PT brasileiro) com viabilidade eleitoral.
Mesmo tais partidos não usam a crítica às ditaduras como principal instrumento de propaganda, porque elas caíram de moda.
A crítica, agora, é às políticas econômicas, também inspiradas pelos EUA, mas, aí, já é outro capítulo histórico, ainda em aberto.


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