São Paulo, quinta-feira, 03 de agosto de 2000


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GOVERNO EM CRISE
Levy, contrário à forma como Barak negocia a paz, deixa o governo; Parlamento aprova antecipação de pleito
Ministro das Relações Exteriores de Israel renuncia

PHIL REEVES
DO "THE INDEPENDENT", EM JERUSALÉM

Israel ficou ontem ainda mais perto de ter eleições antecipadas. O chanceler David Levy renunciou. Sua saída coincidiu com uma nova derrota do premiê Ehud Barak no Parlamento -61 dos 120 deputados aprovaram, em primeira leitura, um projeto para a dissolução da casa e convocação de novo pleito.
Barak, entretanto, ainda terá pelo menos mais três meses de vida no governo, durante o período de recesso parlamentar de verão.
A renúncia de Levy debilita o premiê. Suas críticas ao governo dizem respeito principalmente à decisão de Barak de negociar com o líder palestino Iasser Arafat a divisão de Jerusalém.
Na véspera da cúpula de Camp David, nos EUA, a coalizão de Barak já havia perdido três partidos e metade de seus ministros. Na segunda-feira, o premiê presenciou a derrota de seu candidato a presidente, Shimon Peres, contra um político de direita de pouca expressão, Moshe Katsav.
A relação de Barak com o Parlamento está tão ruim que não se sabe se ele conseguiria a aprovação dos deputados caso obtenha um acordo com os palestinos.
Espera-se que, nos próximos três meses, ele busque com ainda mais obstinação um acordo de paz. Dessa forma, convocaria eleições antecipadas que serviriam ao mesmo tempo como um referendo sobre o tratado.
Há meses que Levy e Barak estavam em rota de colisão. As divergências ficaram ainda mais claras quando o chanceler se negou a acompanhar a delegação israelense que viajou a Camp David.
Shlomo Ben Ami, ministro da Segurança Pública que se tornou figura de destaque no diálogo com os palestinos, é um forte candidato a substituir Levy na pasta das Relações Exteriores. Outro possível sucessor é o deputado de centro-direita Dan Meridor.
Levy exigia que Barak formasse um governo de união nacional com o Likud (de direita, principal partido de oposição), o que poderia significar a adoção de um tom menos conciliatório no processo de paz.
Apesar de ter sido uma votação apenas preliminar, o resultado de ontem em favor da antecipação das eleições foi uma evidência de que a oposição é capaz de reunir a maioria necessária de 61 deputados para derrubar o governo.
Eleito em 1999 para um mandato de quatro anos, Barak tem agora três meses para costurar uma nova coalizão.
Nesse período, deve pressionar os palestinos a aceitarem um acordo. E, então, convocar eleições -elas seriam apresentadas aos eleitores como o prometido referendo sobre o acordo de paz.
Mas suas chances de conseguir resolver nesse espaço de tempo as divergências remanescentes parecem ser mínimas. E, mesmo se Barak chegar a um acordo, ainda será alvo de acusações da direita, que dirá que, com seu governo em pedaços, ele se precipitou ao assumir "compromissos destrutivos" para salvar a própria pele.
O premiê, porém, ainda não desistiu. Ontem, em tom de desafio, Barak respondeu que as eleições "estão mais longe do que vocês pensam".


Tradução de Marcelo Starobinas

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