São Paulo, quinta-feira, 03 de agosto de 2000


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Internet auxilia a extrema direita

DA REDAÇÃO

A Internet constitui o maior obstáculo para quem deseja combater o radicalismo de extrema direita, pois seu conteúdo está livre do controle público.
A afirmação é de Paul Spiegel, presidente do Conselho Central Judaico da Alemanha, que sustenta que todo material xenofóbico e anti-semita deve ser retirado da rede mundial de computadores.
Leia a seguir trechos de sua entrevista à Folha.

Folha - O que o sr. pensa do atentado a bomba ocorrido em Dusseldorf na semana passada?
Paul Spiegel -
Não sei quem cometeu o atentado nem que razões o motivaram. Sendo assim, não desejo especular sobre o assunto. Quero evitar que as pessoas fiquem histéricas com o caso antes que saibamos quem cometeu o atentado e, sobretudo, qual foi a razão de seu ato terrorista.

Folha - Qual é a força dos radicais de extrema direita na Alemanha?
Spiegel -
Na Alemanha, existe um número importante de pessoas de extrema direita. Lemos diariamente nos jornais alemães sobre casos de violência com motivação racial ou xenofóbica, que é praticada por pessoas ou grupos de extrema direita.
Há todos os dias notícias sobre violência contra estrangeiros, contra deficientes físicos, contra judeus. Por exemplo, houve um ataque a uma sinagoga em Erfurt (Turíngia) há pouco tempo.
Podemos, portanto, afirmar que o radicalismo de extrema direita é forte na Alemanha. Entretanto, após o atentado da semana passada e graças à atuação da imprensa, a população tomou consciência de sua existência e está pronta para enfrentá-lo.

Folha - O que pode ser feito para impedir ações radicais por parte de pessoas de extrema direita?
Spiegel -
Uma campanha de esclarecimento é a primeira medida necessária. Devemos deixar claro para os alemães para onde a extrema direita pode nos levar e para onde nos levou no passado. Falo do nacional-socialismo (hitleriano), do ódio contra outras pessoas. Não apenas contra estrangeiros ou judeus, mas contra todos que não aderem aos princípios dos radicais de extrema direita. Trata-se de um ataque direto à democracia alemã.
Porém, hoje em dia, o maior problema diz respeito à Internet, pois ela é internacional e está livre do controle público. Há cerca de 500 sites em todo o mundo que veiculam conteúdo de extrema direita, claramente anti-semita. Alguns jovens utilizam a Internet para compartilhar seu ódio racial por meio de salas de bate-papo. Essa questão é essencial, pois, no passado, quando grupos de extrema direita se reuniam, a polícia podia observá-los, vigiá-los.
Agora os radicais sentam-se confortavelmente em frente ao computador para falar de assuntos de seu interesse e marcar eventos ou ações terroristas. E é exatamente nas salas de bate-papo que se encontra o maior perigo. Infelizmente, não se pode proibir sua existência. Os sites são majoritariamente estrangeiros, e aqueles que veiculam as coisas mais graves são dos EUA. Ainda mais grave é o fato de que o governo norte-americano não deseje discutir medidas que possam impedir a propagação desses sites.
Aqui na Alemanha, por exemplo, é proibida a venda do livro "Minha Luta", de Adolf Hitler. Contudo os alemães podem comprá-lo com a simples utilização do mouse do computador, pois ele é vendido nos EUA. A Europa e os EUA devem regulamentar a Internet e desenvolver tecnologias para retirar dela o material de extrema direita. (MSM)


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