São Paulo, sábado, 03 de agosto de 2002

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VENEZUELA

Cinco pessoas foram feridas à bala; Justiça deve decidir em breve se indicia militares por golpe de abril contra Chávez

Chavistas e polícia trocam tiros em Caracas

DA REDAÇÃO

O governo venezuelano militarizou o centro e a zona oeste de Caracas ontem depois que choques entre grupos civis armados e policiais metropolitanos deixaram cinco feridos na madrugada.
A tensão no país aumenta enquanto se espera a decisão da Suprema Corte de indiciar ou não quatro oficiais militares acusados de responsabilidade pelo golpe de Estado de abril, quando o presidente Hugo Chávez foi afastado do cargo por dois dias.
O tiroteio da madrugada ocorreu quando uma patrulha da Polícia Metropolitana, controlada pelo prefeito de Caracas, o antichavista Alfredo Peña, foi emboscada por partidários de Chávez na favela 23 de Janeiro, no oeste da cidade. Um policial e quatro civis sofreram ferimentos à bala.
Segundo fontes policiais, os civis estavam portando "rifles de assalto de alto calibre". "Eles estão usando armas de guerra", reclamou o prefeito da capital venezuelana.
Peña acusa o governo de estar por trás dos confrontos. Para ele, os responsáveis pela emboscada foram membros do grupo guerrilheiro urbano conhecido como Tupamaros, que receberiam apoio do Poder Executivo.
Um porta-voz dos Tupamaros disse que o grupo nada tinha a ver com os confrontos.
Anteontem, Peña havia acusado o governo de promover uma campanha de difamação contra a Polícia Metropolitana. No dia anterior, quatro membros da corporação tiveram a prisão ordenada por suposta responsabilidade por duas das 18 mortes ocorridas durante as manifestações que antecederam o golpe de abril.
Membros do governo, por outro lado, dizem que a Polícia Metropolitana é que está alimentando a tensão no país, ao reprimir de forma excessivamente violenta as manifestações de rua.

Estado de exceção
O líder oposicionista Elías Santana fez uma declaração pedindo calma e que os manifestantes não "caíssem nas provocações de grupos violentos ligados a governistas". Santana teme que os distúrbios possam ser usados pelo governo para dar um autogolpe ou decretar um estado de exceção.
O ministro do Interior da Venezuela, Diosdado Cabello, enviou cerca de mil soldados da Guarda Nacional para as ruas e disse que um estado de exceção não é cogitado.
O vice-presidente do país, José Vicente Rangel, disse que os distúrbios estão controlados. Apesar do tom tranquilizador das autoridades, logo diante da sede da Vice-Presidência policiais tiveram de usar gás lacrimogêneo para dispersar um grupo de manifestantes. Rangel estava tentando dialogar com os manifestantes quando a ação de dispersão começou.
O oposicionista Pablo Medina, ex-dirigente do partido Pátria para Todos, disse que Chávez "está tratando de justificar o estado de exceção" ao estimular a ação dos Círculos Bolivarianos, grupos civis de apoio ao governo.
Caracas foi palco de atos esporádicos de violência durante toda a semana, enquanto a Suprema Corte analisava se julgaria ou não os quatro oficiais de alta patente acusados de golpe. O governo vem pressionando o Judiciário para que o indiciamento seja feito. Uma decisão é esperada para a semana que vem.

Transição
Chávez se encontrou ontem com o embaixador americano em Caracas, Charles Shapiro, para pedir esclarecimentos sobre a abertura do Escritório de Iniciativas de Transição, ligado à Agência Internacional de Desenvolvimento do Governo dos EUA.
A notícia da abertura do escritório em Caracas gerou controvérsias, por causa da interpretação de que a "transição" da nomenclatura poderia dar margem à interpretação de que os EUA estariam participando de um plano da oposição para derrubar Chávez.
Os EUA foram o primeiro país a reconhecer o novo governo formado após o golpe e tiveram atuação criticada no episódio. Shapiro admitiu ontem que o nome do novo escritório deu margem a interpretações equivocadas, mas afirmou que elas são infundadas. "A idéia não é ajudar o governo nem a oposição, mas fortalecer o sistema democrático."


Com agências internacionais


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