São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2008

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"Ensino que a China não é o centro do mundo"

Professor afirma que inglês das escolas é "inglês surdo"

DO ENVIADO A QINGYUAN

Ao contrário da retórica nacionalista que usa para inflamar o fervor de seus alunos, quando conversa com jornalistas estrangeiros, Li Yang é bem mais humilde. "Com o domínio do inglês, poderemos nos abrir mais ao mundo. A China ainda é um país pobre. Meus alunos precisam saber que não somos o centro do mundo, mas parte dele", diz. Acompanhado por um cinegrafista, dois assistentes, seu fotógrafo particular e a secretária, Li Yang, conversou com a Folha depois da aula-espetáculo na colônia de férias.

 
Nacionalismo
"Sou acusado de ser nacionalista, e sou mesmo, por querer que os chineses sejam mais internacionais, espalhem seus negócios pelo mundo, saibam explicar melhor seu país, reduzam as incompreensões. Adoro a cultura chinesa, mas também ensino que a China não é o centro do mundo [Zhongguo, nome do país em chinês, quer dizer "país do centro"]. A China é parte do mundo."

País pobre
"Acho que os chineses devem olhar menos para o umbigo e mais para fora. Precisamos aumentar a autocrítica. Este país é muito poluído, pobre, só somos campeões em fabricar produtos baratos, não em tecnologia. Quando vejo o governo censurar ou bloquear as imagens da [emissora de TV americana] CNN por falar da poluição de Pequim, fico com vergonha. O país precisa ser mais aberto."

Extremos
"Essa campanha contra a França e contra países que supostamente apóiam a independência do Tibete tem o dedo do governo chinês. Nosso nacionalismo aparece e desaparece com muita facilidade. Batemos no peito que amamos a China, mas corremos para tentar um trabalho ou um estudo nos Estados Unidos ou no Canadá. E quem consegue ir para lá geralmente não quer voltar. Este país vive nos extremos. A China está melhorando em todas as áreas, o governo no geral faz um bom trabalho, mas ainda é cedo para se considerar uma potência. Além disso, não dá para levar a França a sério. Eles só trabalham quatro dias por semana."

Disciplina chinesa
"Esse é um dos grandes clichês que o Ocidente tem sobre a China. Que nossos alunos são superdisciplinados e, logo, melhores alunos. O rigor em excesso, a formalidade, o excesso de disciplina fazem os estudantes chineses detestarem a escola. As pessoas odeiam estudar, fica na memorização, não na compreensão. E, para mim, disciplina você aprende até os seis anos de idade, não é a escola que disciplina. Minhas filhas estudam em escola americana e têm resultados bastante melhores que a escola chinesa."

Passar vergonha
"Chinês morre de medo de passar vergonha. Então, mesmo quem sabe um pouco de inglês, prefere não arriscar. Aqui eu ensino que é bom passar constrangimento, falar errado, só assim se aprende de verdade. Deixo os alunos exaustos, estudar é trabalho físico."

Inglês surdo
"O inglês na escola pública prioriza as provas, a nota, a múltipla escolha no teste... Raramente fazem você falar alguma coisa. É o que chamo de inglês surdo. Depois de dez anos de estudo, o aluno não consegue falar duas frases. Eu não ensino gramática. Ensino a comunicação, com frases, pequenas histórias, a gramática vai embutida. Prefiro motivar o aluno." (RJL)


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