São Paulo, domingo, 03 de setembro de 2000


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Colômbia garante que não vai usar fungicida

DA REPORTAGEM LOCAL

A pedido do Brasil, o Ministério do Meio Ambiente da Colômbia fez um compromisso formal de que não irá testar armas biológicas na Amazônia.
A promessa do ministro Juan Mayr inclui ainda a participação de representantes brasileiros em quaisquer experimentos com transgênicos que venham a ser realizados na região.
O alvo do questionamento brasileiro é o fungo Fusarium oxysporum, desenvolvido pelos Estados Unidos para destruir as folhas da planta de coca.
Repetidamente, o governo colombiano tem afirmado que não irá usar o fungo. Repetidamente os EUA afirmam que essa negativa deveria ocorrer apenas depois de testes sobre a eficácia e as consequências do uso do fungo.
O combate ao tráfico na Colômbia vai se iniciar nas margens dos rios Putumayo e Caquetá, afluentes do rio Solimões, que no Brasil mudam de nome para, respectivamente, Içá e Japurá.
"A idéia é absurda. Não se sabe como esse fungo transgênico pode atingir a biodiversidade da Amazônia", disse o ministro brasileiro do Meio Ambiente, José Sarney Filho.
A pedido da Folha, um dos maiores especialistas em transgênicos do país, o diretor do Programa Nacional de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, Bráulio Dias, avaliou o risco do Fusarium oxysporum. "Há motivos reais para preocupações", disse.
Dias elencou várias razões. Em geral, quando se usa uma arma biológica, tenta-se combater um inimigo exótico. Foi por isso que a Austrália importou mariposas para destruir os cactos latino-americanos que infestaram os pastos de gado. A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) tem longa tradição em uso de lagartas e insetos no combate a pragas agrícolas. Mas o caso da coca é diferente.
Primeiro, porque a coca é uma planta típica dos Andes, portanto os seus inimigos naturais também são da região. O segundo motivo é que é muito provável que um fungo que ataque as folhas de coca também destrua outras espécies de arbustos. A terceiro razão é que, por ser um transgênico, o fungo pode sofrer mutações. Num ambiente como o da Amazônia, as possibilidades de transformações desse fungo com outras espécies são quase infinitas e imprevisíveis.
Caso a Colômbia ceda às pressões dos EUA e inicie experimentos com o fungo, o Brasil irá usar a Convenção de Biodiversidade, que permite processar países que coloquem em risco suas espécies de fauna e flora.

Descoberta
O Departamento da Agricultura dos EUA descobriu o potencial do uso do Fusarium oxysporum contra plantações de coca no Havaí, em 85. Os pesquisadores se preparavam para usar herbicidas químicos contra plantas de coca quando encontraram todas mortas. Eles descobriram que a causa era uma variação do fungo, gerando uma década de pesquisas para o desenvolvimento de um fungicida.
Mas as pesquisas foram paralisadas em 1996, porque o fungo não era prático, requerendo grandes quantidades para fazer efeito, segundo a porta-voz do Serviço de Pesquisas Agrícolas do departamento, Sandy Miller Hays.
Entre 1990 e 1992, uma epidemia do fungo no Peru destruiu dezenas de milhares de hectares de plantações de coca no vale de Huallaga. Hays disse que a variação do fungo matou outras espécies de plantas também, ao contrário da variação havaiana, que só destruiu os arbustos de coca.








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