|
Próximo Texto | Índice
CÁUCASO
Rússia descarta "no momento" uso da força na Ossétia do Norte para tentar libertar centenas que continuam presos
Terroristas soltam 26 dos reféns da escola
DA REDAÇÃO
Os terroristas que invadiram
uma escola de Beslan, na república russa da Ossétia do Norte, soltaram ontem 26 crianças e mulheres. As negociações prosseguem
para libertar as centenas de reféns
que estão no prédio cheio de explosivos. A Rússia descartou "no
momento" o uso da força.
"Nossa principal missão é salvar
a vida e a saúde dos reféns. Todas
as ações de nossas forças serão devotadas à resolução dessa missão", afirmou Putin, que cancelou
uma viagem à Turquia. Valery
Andreyev, chefe da FSB (ex-KGB,
a polícia secreta soviética) na Ossétia do Norte, disse que "não se
cogita no momento a opção pela
força. Haverá um longo e tenso
processo de negociação".
Ontem à noite, o porta-voz do
governo regional, Lev Zugaivev,
disse que sua estimativa de que
havia 354 reféns pode ter subdimensionado o total. Em Beslan,
muitos acreditam que o número é
bem maior. "Putin: pelo menos
800 pessoas estão como reféns",
dizia um cartaz erguido por um
manifestante. A escola tem cerca
de 900 alunos, de 7 a 17 anos.
Os seqüestradores deixaram algumas crianças e a diretora da escola usar o telefone. Em conversas
com familiares, elas disseram que
a situação é "suportável".
A espera dos parentes atrás da
cerca montada pelas forças russas, cuja distância impede a visão
da escola, foi marcada por sons de
tiros e de explosões de granadas
jogadas de dentro da escola.
A decisão dos terroristas de soltar um grupo de reféns aconteceu
após negociações com o ex-presidente da Inguchétia Ruslan Aushev, que chegou a entrar no prédio e acompanhou a saída das 11
mulheres e 15 crianças. Aushev é
um dos maiores críticos da política de Putin para a Tchetchênia.
Outro negociador, o pediatra
Leonid Roshal, que participou
das conversações com os separatistas tchetchenos que invadiram
um teatro de Moscou em 2002,
descreveu a soltura como uma
"grande vitória". "Mas se você
olhar para o quadro completo, é
uma gota no oceano. Ainda há
muito trabalho pela frente."
Roshal disse que os terroristas
continuam sem permitir a entrada de água e comida no prédio. O
negociador acredita que um fim
trágico para a crise pode produzir
"uma guerra entre povos fraternos". "Apelo à sabedoria dos inguchétios, ossétios e tchetchenos
para evitar uma guerra."
O norte do Cáucaso está há
muito tempo dominado pela falta
de confiança e de paz. A Ossétia,
de maioria religiosa ortodoxa, é a
principal base de apoio da Rússia
na luta contra os separatistas da
república vizinha Tchetchênia,
predominantemente muçulmana. No início dos anos 90, centenas foram mortos em um conflito
territorial entre ossétios e os vizinhos inguchétios -cuja etnia é
mais próxima da dos tchetchenos.
Os seqüestradores exigem em
troca da vida dos reféns a saída
das tropas russas da Tchetchênia
e a libertação de rebeldes presos
na Inguchétia em junho. As exigências e o modo de operação levam a crer que os terroristas sejam separatistas tchetchenos, mas
até agora o ataque ainda não foi
reivindicado por nenhuma organização. Segundo o ministro
Dzantiyev, o grupo de cerca de 20
terroristas que tomou a escola é
composto por caucasianos (tchetchenos, inguchétios e ossétios) e
russos. Andreyev, da FSB, disse
que vários já foram identificados.
O Kremlin mantém uma posição dura em relação à Tchetchênia por temer que, se a república
integrante da Federação Russa
conquistar sua independência,
outras na região passarão a exigir
maior autonomia ou mesmo a separação.
"Hoje é a Ossétia do Norte, com
o problema vindo da Inguchétia e
da Tchetchênia. Amanhã pode ser
Kabardino-Balkária ou Daguestão. A Rússia não se sente forte no
norte do Cáucaso. Há muitos problemas", disse Alex Rondeli, analista político da Geórgia.
O Itamaraty divulgou nota ontem em que "condena a recente
escalada de ações terroristas verificada em território da Federação
da Rússia".
Com agências internacionais e jornal "Financial Times"
Próximo Texto: "Esses bastardos têm de morrer", afirma parente Índice
|