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"Esses bastardos têm de morrer", afirma parente
ANDREW OSBORN
DO "INDEPENDENT", EM BESLAN
Em sua cozinha, a poucas quadras de onde estão os pelo menos
350 prisioneiros dos terroristas,
Aza Ezaev tenta se recompor enquanto a todo instante as lágrimas
surgem em seus olhos.
Como muitos na pequena cidade de 35 mil habitantes no norte
do Cáucaso, Aza, 74, tem amigos e
parentes na escola: sua filha, sua
sobrinha e três netos. Enquanto
ela faz chá, reverberam as explosões das granadas disparadas pelos seqüestradores contra as forças especiais russas. O som dos tiros de pistola cortam o dia, e o
som dos disparos de metralhadora ecoam na cidade.
"Mal consigo me concentrar. Se
eu soubesse que viriam, teria preparado um comida típica da Ossétia", diz para os dois jornalistas
que generosamente aceitou hospedar. "Tenho cinco parentes lá e
sei que só há um jeito disso acabar: mal. Essas pessoas [os seqüestradores] não são humanos,
não têm consciência ou escrúpulos." Ela fica séria, e seu filho Alek
concorda.
"Temos um ditado: "A Rússia
precisa do Cáucaso, mas sem o
povo que vive aqui". Esses bastardos têm de ser capturados e depois mortos."
A nora de Aza, Larissa, que é
tchetchena, tenta manter-se ocupada com os dois filhos de três e
dois anos, tal como se fosse um
dia qualquer. "Não fiquem ouvindo a conversa", fala para as crianças, enquanto outra explosão sacode a cidade. "Vão brincar lá fora", manda Alek.
Aza diz que os seqüestradores
são "árabes, tchetchenos e inguchétios", pronunciando a última
palavra como se estivesse cuspindo comida estragada. "Eu culpo
os inguchétios. Sempre foram um
povo com o coração empedernido. Stálin os deportou, e todo
mundo ficou feliz, aí eles voltaram
e os problemas recomeçaram. Somos um povo temente a Deus cercado de muçulmanos e forças
hostis por todos os lados."
Alek diz que as coisas jamais serão como antes, não importa o
fim. "Como se pode esquecer
quem mata crianças? Não dá. Vai
haver guerra depois disso, e nós
vamos lutar."
"Somos todos muito ligados na
Ossétia. Quase todo mundo é parente. Todos são próximos. Abraçamo-nos a todo instante porque
essa é a nossa tragédia."
Os boatos se espalham: tanques
estão vindo da vizinha cidade de
Vladikavkaz; um homem na escola foi esquartejado; um número
indefinido de prisioneiros foi solto; corpos de crianças foram lançados das janelas da escola; e os
muitos cachorros soltos nas ruas
da cidade começaram a comer os
corpos caídos na frente da escola
longe da imprensa.
Fátima, funcionária dos correios, implora com os olhos: "Moço, é verdade que soltaram prisioneiros?" Como muitos ali, conta
uma história trágica. Seu amigo
foi atingido, diz, quando tentou
apanhar uma metralhadora para
enfrentar os terroristas. "Seu corpo ainda está onde caiu. Não conseguimos recuperá-lo."
Tropas cruzam as ruas com comida e cobertores para os seqüestrados, mas os tchetchenos e inguchétios recusam. Centenas de
parentes se reúnem na Casa de
Cultura para ouvir as últimas informações. Policiais mantêm os
jornalistas longe, explicando que
têm ordens de oferecer aos parentes um refúgio da mídia.
Uma mulher usando um típico
lenço do Cáucaso começa a gritar
e segura a cabeça ao ouvir uma
explosão. "Estão matando as nossas crianças", diz outra.
Grupos de parentes carregavam
cartazes contra o governo: "Putin:
não há menos de 800 pessoas seqüestradas", diz um deles. "Putin:
deixe nossas crianças irem. Aceite
as exigências dos seqüestradores", pede outro.
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