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TERROR
Os réus foram julgados sob acusação de integrar a "conexão argentina" do ataque, que matou 85 pessoas, há dez anos
Argentina absolve os 22 acusados do atentado à Amia
CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES
A Justiça argentina absolveu ontem todos os 22 acusados de envolvimento na chamada "conexão nacional" do atentado contra
a Associação Mutual Israelense
Argentina (Amia), ocorrido em 18
de julho de 1994. Foi a maior ação
terrorista da história do país
-matou 85 pessoas. Os argumentos que levaram ao veredicto
serão divulgados em 40 dias.
O mecânico Carlos Telledin,
acusado de preparar a van que foi
usada para explodir o edifício, está preso há dez anos, mas ainda
não será solto porque está sendo
investigado por roubo de carro, o
que requer a sua prisão preventiva. Mas os cinco policias acusados
de facilitar as operação de Telledin, presos há oito anos, serão libertados. Outros 17 indiciados
sob acusação de extorsão também
foram absolvidos.
"Neste momento estou estupefata. Mal posso dizer o que sinto.
Vamos apelar, mas temos de esperar para saber sob quais argumentos chegaram a essa conclusão. Não responderam às provas
que apresentamos", disse Marta
Nercellias, advogada da Amia.
Familiares das vítimas prometeram apelar a tribunais internacionais e já preparam uma manifestação para hoje.
"Vamos denunciar o Estado argentino por encobrir o atentado,
por não atuar para evitá-lo e por
obstruir a investigação", disse o
familiar Sérgio Bustein.
Durante os dez anos que separaram o julgamento de ontem do
atentado, várias provas desapareceram, e o juiz Juan José Galeano,
o primeiro a conduzir as investigações até 2002, foi afastado por
ter usado US$ 400 mil de um fundo do Estado para "comprar" a
confissão de Telledin.
A Side, polícia secreta argentina,
sumiu com 66 fitas cassete com
gravações de conversas telefônicas de Telledin, sua agenda eletrônica e vários rolos de filmes fotográficos, material que havia sido
aprendido da casa de Telledin.
As investigações foram divididas em duas frentes. As relacionadas à conexão local trataram de
investigar a organização do atentado e chegou a Telledin e aos policias que tiveram encontros com
ele dias antes do atentado.
As investigações da conexão internacional tentam seguir as pistas dos mandantes do atentado e
apontam para o Irã e para células
do grupo extremista libanês Hizbollah na Tríplice Fronteira (entre
Brasil, Argentina e Paraguai).
Recentemente foram identificados telefones celulares que fizeram chamadas a Telledin de locais
da Tríplice Fronteira -um deles
pertencia a um brasileiro.
Entre 2001 e 2003, outro brasileiro, Wilson dos Santos, cumpriu
pena de três anos em Buenos Aires por falso testemunho. Duas
semanas antes do atentado, ele
havia avisado ao Consulado de Israel em Milão que a explosão
ocorreria, mas depois desmentiu.
Em julho, a Justiça argentina encerrou, por falta de provas, o processo que investigava a acusação
segundo a qual o ex-presidente
Carlos Menem (1989-99) recebeu
US$ 10 milhões de suborno de
Teerã para não acusar o governo
iraniano pela ação.
A maioria dos familiares das 85
vítimas deixou de acompanhar o
processo há cerca de três meses e
não assistiram ao julgamento de
ontem. De acordo com Luis
Szyczewsky, representante das família, o afastamento é um protesto pela maneira com que a Justiça
conduziu as investigações.
"Interrogaram as vítimas durante horas e perguntaram de tudo, mas os policiais e funcionários
públicos foram poupados. Nunca
faziam as perguntas que queríamos e se contentavam como respostas como "não me lembro'",
disse Szyczewsky.
A comunidade judaica na Argentina já havia sido alvo de um
ataque de grandes proporções antes do atentado à Amia. Em 1992,
uma bomba destruiu a Embaixada de Israel em Buenos Aires, deixando 29 mortos. Também nesse
caso, ninguém foi punido.
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